O espetáculo teatral é uma produção da Companhia Afro de Teatro Reinvent’arte, em parceria com o Centro de Cultura Negra Negro Cosme (CCN-NC) e o Centro de Ensino Urbano Rocha
O dia 26 de agosto foi a grande estreia de um espetáculo teatral que fez história em tão pouco tempo de circulação. Inspirado na história de Cosme Bento das Chagas (o Negro Cosme) correlacionada a história de criação do Centro de Cultura Negra-Negro Cosme (CCN-NC) de Imperatriz, instituição que completou 20 anos de existência neste ano. O elenco é formado por estudantes do ensino médio – entre 14 e 18 anos – que estudam no Centro de Ensino Urbano Rocha.
Formado por 10 atores, atrizes e um diretor, o espetáculo começou a circular no dia 26 de agosto e permaneceu em evidência até o dia 07 de outubro, circulou por quatro escolas, situadas em Imperatriz, Açailândia e João Lisboa, além da grande estreia ocorrida no Teatro Ferreira Gullar na VI Mostra Afro de Artes Cênicas de Imperatriz, promovido pelo CCN-NC e Centro de Ensino Urbano Rocha, executado pela Companhia.
‘Uma ideia chamada Negro Cosme’ é um espetáculo que conta a história do Negro Cosme e relaciona a criação do CCN-NC. Negro Cosme é considerado, um herói, o tutor da liberdade Bem-te-Vi, um guerreiro que lutou bravamente a favor da abolição da escravatura no Brasil.
O diretor do espetáculo, Domingos de Almeida, explica que a proposta de escrever a peça surgiu a partir de um edital da Fapema (Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão ) de incentivo à cultura. “Dentro do projeto [A arte do faz de conta] a gente propôs de contar a história do movimento negro de Imperatriz, que este ano completou 20 anos”.
Segundo ele, esse projeto foi submetido ao edital da Fapema, em 2018. Naquele ano, ressalta o diretor, que ainda não era o ano do vigésimo aniversário do CCN-NC, mas já existia o desejo de dar visibilidade aos protagonistas da criação do movimento negro e da instituição CCN-NC
“Quando começamos a desenvolver o projeto, nós resolvemos contar a história do movimento negro e destacando os principais personagens de criação e também falar daquele que dar nome ao Centro de Cultura Negra de Imperatriz: Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme, que é essa figura importante que nos representou na balaiada na luta contra a escravidão, na luta abolicinista pelo fim do regime escravocrata”.
O diretor da Companhia reforça que o principal retorno que tiveram foi o de Identificação. “As pessoas começaram a se visualizar dentro de uma história que ocorreu aqui no Maranhão e que a gente pouco ouve falar e quando a gente ouve falar é a versão do Duque de Caxias.”
Reforça ainda, que por meio do espetáculo pôde levar aos palcos, sobretudo das escolas públicas, a problematização do racismo no ambiente escolar. “Então penso que nós conseguimos problematizar contando a história do movimento negro de imperatriz, de uma forma criativa de trazer o debate do racismo e de enaltecer as iniciativas, para que cada vez menos a gente tenha que passar por esse sofrimento que é a discriminação racial.”
Os atores Gabriel Rodrigues e Matheus Henrique, estudantes do 3° ano do Ensino Médio, interpretaram Negro Cosme em forma de uma divindade com uma coroa feita de talos de buriti, papel paraná e vestidos com mantos de tecidos de chitas. Gabriel falou da satisfação de ter protagonizado o tutor da Liberdade Bem-Te-Vi.
“Quando você participa de uma peça desse tipo, você não está representando só a história de uma pessoa. Você está representando a história de um povo que Negro Cosme foi responsável por lutar na Balaiada e ele foi um dos precursores para o fim da escravidão. Porque ele não era um homem que lutou sozinho, mas muitas pessoas também o apoiaram. Infelizmente ele foi enforcado, mas a gente sabe que tudo que ele fez hoje está refletido na sociedade. Hoje em dia a gente tem um pouco mais de liberdade, tem mais pessoas que lutaram no passado para que a gente tivesse hoje aqui, fazendo essas coisas e o que a gente quer.”
Matheus também relembrou as partes mais marcantes de suas apresentações. “Particularmente eu adorei. O papel de Negro Cosme retrata o líder quilombola que marcou a história até os dias atuais. A história dele é bem dura mesmo e eu gostei de representar esse papel. A forma da vida dele, como lutou e teve que se sacrificar foi algo muito marcante e que mudou bastante minha maneira de pensar. Adorei o papel e se eu pudesse fazer novamente eu faria sem o menor problema, porque realmente eu gostei muito.”
Matheus e Gabriel ganharam troféus na VI Mostra Afro de Artes Cênicas de Imperatriz pela interpretação de Negro de Cosme em forma de divindade. Matheus como ‘Melhor Ator’ e Gabriel como ‘Melhor Ator Coadjuvante’. A estudante Ana Christina também foi destaque no espetáculo. Ela representou uma das mulheres que estavam no dia da fundação do CCN-NC.
“No dia da Mostra Afro de Teatro foi umas das experiências que está no meu top 10 de melhores que eu já vivi. Eu estava muito nervosa, mas quando chegou lá na frente a gente apresentou e no final todo mundo aplaudiu. Foi muito bom! Quando entregaram os troféus e chamaram meu nome, meu Deus! Meu coração quase sai pela boca.”
Relatou também que ficou mais nervosa para receber o troféu do que para apresentar. Sobre a peça, Ana destaca que quem assistiu e interpretou teve muita atenção e carinho por tudo que ocorreu no espetáculo e sem dúvida deixou um legado para eles enquanto jovens negros estudantes.
“A peça tinha que prestar muita atenção para poder entender a história e porque passava mais de um acontecimento, por exemplo: acontecia a cena no presente que era a gente falando o que aconteceu no dia da fundação do CCN-NC, e também tinha a questão dos Negros Cosmes [interpretado por Matheus e Gabriel] que ficavam mais atrás e eram uns espíritos [divindades] que falavam sobre a história do Negro Cosme, e se você prestasse bem atenção, é uma coisa muito pesada o que fizeram com Negro Cosme e tudo que ele passou. A peça me marcou muito principalmente a visão que eu tenho agora. Essa peça foi uma das melhores experiências.”
Mostra Afro de Teatro
Neste ano, a VI Mostra Afro de Teatro é realizada por meio do projeto ‘A escola no mundo do faz de conta’, coordenado pela Professora Marleide Sousa Neco e apoiado pela Fapema, no âmbito do edital 005/2018 Com Ciência Cultural. No dia da Mostra, ocorrido no Ferreira Gullar, foram apresentados os espetáculos, Amor por Anexins, de Arthur Azevedo; Uma Ideia Chamada Negro Cosme, de Domingos de Almeida, pelo elenco da Companhia Afro de Teatro Reinvent’arte; O pescador, de Altemar Lima, pela Companhia de Teatro Primeiro Ato, de Alto Alegre do Pindaré, que participou da mostra como grupo convidado.
Foram recitados os poemas ‘Miscigenação’ e ‘Lista de amigos’ de Domingos de Almeida, pelo ator Guilherme Ribeiro e pelas atrizes Thais Costa e Érika Raquel Coimbra. Após as apresentações foram escolhidos os melhores da noite. O ator Matheus Henrique Ribeiro da Cia. Afro de Teatro Reinvent’arte e a atriz Liliam Ruth Coimbra ficaram com os prêmios principais, de ‘Melhor Ator’ e ‘Melhor Atriz’ respectivamente. O Ator Gabriel Rodrigues e a Atriz Ana Christina Ferreira foram agraciados com os prêmios de ‘Melhor Ator’ e ‘Melhor Atriz Coadjuvante’.
O Diretor da Companhia de Teatro Primeiro Ato, Reinaldo Ferreira, recebeu o Troféu Luísa Sousa por sua inestimável contribuição ao fazer teatral no Maranhão. A grande homenageada da noite foi a Professora e Presidenta de Honra do CCN, Maria Luísa Rodrigues de Sousa, que deu nome ao troféu da Mostra.
O corpo de jurados contou com a Professora e ex-presidenta do Centro de Cultura Negra, Herli de Sousa Carvalho, a Professora do CE Urbano Rocha, Deusa Ferreira, o ex-presidente do CCN, Mariano Dias, a atriz Tanandra Cristina Sousa e a Presidenta de honra do CCN, Maria Luísa Rodrigues de Sousa.
Neste ano o Festival foi realizado por meio do projeto ‘A escola no mundo do faz de conta’, coordenado pela Professora Marleide Sousa Neco e apoiado pela Fapema, no âmbito do edital 005/2018 Com Ciência Cultural.
Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).