Alesandra Nobre: Coord. da Casa do Idoso, Pedagoga e título de cidadã imperatrizense

“Aquele idoso desanimado, passa a sentir que está recuperando vida humana, e percebe-se mais animado, se enche de objetivos, e renasce. A palavra é essa, ele renasce e descobre que é possível envelhecer com qualidade de vida, então isso me motiva. ”

Alesandra Nobre. Ilustração: Idayane Ferreira.

Na doce efemeridade da infância, onde o tempo dança ao ritmo das brincadeiras, dos doces e da infindável criatividade, é também o palco onde os primeiros rascunhos de nossos talentos começam a se desenhar. Os especialistas sustentam a teoria de que é nessa fase lúdica que revelamos, muitas vezes de maneira sutil, nossas vocações futuras, talvez até antecipando o desfecho de nossas escolhas profissionais.

A história de Alesandra Nobre se entrelaça com esses conceitos, como uma narrativa de sensações e contrastantes entre a felicidade e os desafios que permeiam a vida. “Os meus pais se separaram eu tinha três anos de idade, apesar disso, tive uma infância feliz e de muita brincadeira. Aos 12 anos, eu já descobri que eu gostava de ensinar, por isso a minha formação toda é na área da Educação. ”

Nascida na capital cearense, sua história começava a se desenhar entre risadas, brincadeiras de rua e o calor típico do nordeste brasileiro. Porém o destino tinha outros planos para Alesandra. A mudança para Imperatriz trouxe consigo uma nova página em sua jornada.

 À sombra do desconhecido, Imperatriz se revela, fazendo fronteira com o estado do Tocantins. Alesandra, a poucos quilômetros da cidade, viu seu destino entrelaçar-se com a terra que acolheu seu anseio de trabalhar. O motivo? Seu esposo, aprovado em um concurso na Universidade Federal do Maranhão, campus de Imperatriz, traçou o caminho que ela, sem hesitar, decidiu percorrer ao seu lado.

“Eu era concursada da Prefeitura de Fortaleza. Depois passei num concurso aqui nessa região, que era no estado do Tocantins. Passei em primeiro lugar no estado do Tocantins, em 2010 para ser professora. Em 2012 eu passei no concurso daqui. ” Com a chegada à cidade maranhense, as cores e os sabores do cotidiano foram se mesclando, criando um quadro único de experiências. O contraste entre as praias de Fortaleza e as singularidades de Imperatriz moldaram a mulher que hoje coordena a Casa do Idoso.

“A gente percebe que o idoso quando chega aqui na ‘Casa’ ele vem de uma realidade às vezes difícil ou até mesmo pensa que porque envelheceu, está aposentado, e não sente que tem mais alguma coisa pra fazer; a gente vê esse idoso chegando na maioria das vezes triste, achando que a vida já acabou porque está na terceira idade. ”

Alesandra relembra o semblante de um idoso quando chega à Casa. Segundo ela, eles se deparam com um panorama rico e diversificado de atividades, que proporciona momentos regados com dimensões físicas, cognitivas e dedicadas à saúde emocional. “A momentos espirituais também”, relembra feliz.

Na Casa há períodos de intensas relações interpessoais, socialização com outros idosos, além de uma gama de projetos e festividades que enriquecem a experiência. Cada momento culmina na participação diária do idoso nesse espaço acolhedor. Em um curto intervalo de tempo, testemunha-se uma transformação notável e inspiradora.

“Aquele idoso desanimado, passa a sentir que está recuperando vida humana, e percebe-se mais animado, se enche de objetivos, e renasce. A palavra é essa, ele renasce e descobre que é possível envelhecer com qualidade de vida, então isso me motiva. ”

Ao passar no concurso para a Secretaria de Desenvolvimento Social, sua jornada na Casa do Idoso teve início. De coordenadora pedagógica a coordenadora geral efetiva, contabilizando 8 anos de atuação profissional neste espaço. Assim ela viu o número de idosos atendidos crescer. A cada dia na Casa do Idoso, Alesandra se depara com a responsabilidade de proporcionar qualidade de vida à terceira idade.

Seu olhar atento busca compreender a singularidade de cada indivíduo que cruza o portão da instituição, pois cerca de 1500 idosos são cadastrados e os atendimentos diários chegam a 150. É uma tarefa que vai além de um simples cargo público; é um compromisso humanizado e dedicado.

Nessa jornada de trabalho ela encontra parceiros valiosos, não apenas na estrutura governamental [prefeitura e estado], mas nas instituições de ensino que colaboram para o enriquecimento das atividades. Faculdades e universidades tornam-se aliados, pois estudantes realizam palestras, estágios, atendimentos médicos e projetos que impactam positivamente a vida dos assistidos.

A história de Alesandra não se resume ao seu papel na Casa do Idoso. Sua vida pessoal também há desafios e alegrias de ser esposa, mãe e filha. A pedagoga é casada, tem dois filhos, Maria Teresa e José Manuel, que tornam a rotina agitada, mas plena de amor. Alesandra também é uma filha dedicada, cuidadora incansável de sua mãe que enfrenta o Alzheimer severo e precoce: “aos 70 foi diagnosticada”, conta.

A vivência diária com a realidade da doença da mãe fortalece sua empatia e aprofunda seu entendimento sobre os desafios enfrentados por famílias que precisam cuidar de seus de seus idosos em casa.

“Eu não sou muito da área de Psicologia, a minha base é mais a filosofia. Então eu tenho um desejo de cada vez mais aprofundar estudos na área de antropologia humana, né? Ultimamente eu tenho costume de dizer que eu encontrei a verdade, encontrei a verdade estudando a filosofia tomista.”

A ‘filosofia tomista’ significa que Alesandra segue seus estudos por meio do método desenvolvido por Santo Tomás de Aquino, um sistema filosófico e teológico. Essa filosofia destaca-se por incorporar a razão na reflexão teológica sem sobrepor-se à fé. A filosofia tomista pontua que a alma humana é subsistente, imortal e única, e por isso, o homem tende naturalmente para Deus.

Além disso, Alesandra é engajada na Comunidade Sementes do Verbo da Igreja Católica, ou seja, claramente ela é uma mulher de fé. Fé em Deus e acredita que o ser humano pode mudar a forma de existir. Em meio às incertezas de um mundo em crise, Alesandra compartilha seu projeto como um compromisso pessoal de aprofundar seus estudos em busca da verdade e do sentido de vida.

Ela é movida pela vontade de auxiliar aqueles perdidos em suas emoções, ela se questiona sobre a felicidade e o significado do existir em um contexto desafiador. Bem filosófico, não?! Nas diversas nuances da sua vida, Alesandra tem em sua personalidade o respeito e encontra na adversidade motivos para cultivar a positividade e ser feliz, inspirando-se em sua poderosa ferramenta de crescimento, o “Amor” em tudo que faz e por onde passa.

Aproveito que estou diante de mais uma mulher inspiradora e pergunto qual conselho ela dar para nós mulheres. Ela responde o seguinte:

“Eu me pergunto: como que eu posso ter sentido de vida e ser feliz dentro dessa realidade? Então penso assim, de estar cada vez mais estudando para estar contribuindo dessa forma, ajudando realmente as pessoas a encontrar o seu verdadeiro sentido de vida, encontrar o seu caminho e poder ser a sua melhor versão aonde ela estiver e na situação que ela estiver.”  

Alesandra aproveita para falar que trabalha intensamente o pensamento positivo com sua mãe, incentivando-a a ver o lado bom mesmo em meio à doença, que é valorizando a família e a vida. Revela que seu maior instrumento de crescimento e sucesso na vida foi o respeito, que lhe permitiu ser reconhecida e valorizada, pois recebeu menções honrosas da prefeitura municipal de Imperatriz e título de cidadã em imperatrizenses.

“Meu legado é realizar todas as tarefas com amor, desde as pequenas até as mais importantes, inspirando outras mulheres a darem o melhor de si em todos os espaços que ocupam. Acredito no poder do amor e da dedicação em todas as áreas da vida, seja na educação, no trabalho com alunos, colegas de profissão ou no cuidado com os idosos, sempre priorizando o respeito e a atenção com amor. ”

Alesandra Nobre, a coordenadora, a mãe, a esposa, a filha, a mulher cearense que tece sua história em Imperatriz há mais de 8 anos. Certamente essas páginas não são suficientes para descrever todas as nuances dessa trajetória, mas cada palavra realça o compromisso e a paixão que permeiam a vida de quem escolheu fazer a diferença na vida dos outros, construindo pontes entre passados e futuros, entre sorrisos e desafios.

Daniela Souza
Daniela Souza

Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).

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