Joênia Wapichana: Advogada, Mestra e primeira mulher indígena a ser Deputada Federal (2019 a 2022)

Não é só com arco e flecha que se luta. Aqui a nossa arma é a caneta”, diz Joênia Wapichana em entrevista à Folha de SP

Joênia Wapichana. Ilustração: Idayane Ferreira.

Mas o que é representatividade? Segundo o dicionário on-line ‘Representatividade’ refere-se ao que é representativo. O adjetivo representativo, por sua vez, também quer dizer, entre outras coisas mais, “aquele que representa politicamente os interesses de um grupo””.

De ‘grosso modo’, poderia resumir em uma frase: Em uma sociedade que se diz democrática, se não houver representatividade muitos dos problemas de desigualdade social e degradação ambiental não serão ou não são atendidas. 

A exemplo, podemos citar a grave situação dos indígenas Yanomami em Roraima. A primeira vez que essa degradação veio à público foi por meio de uma ‘representatividade’ no Parlamento brasileiro. 

No mês de maio de 2022 a então Deputada Federal Joênia Batista de Carvalho (conhecida como Joênia Wapichana), filiada ao partido Rede – de Roraima, denunciou a grave situação dos Yanomamis que tiveram suas terras invadidas por garimpeiros. A indígena Joênia foi incansável nas tomadas de atitude para defender os povos originários. 

Mas como foi sua trajetória de Joênia Wapichana até chegar a ser a primeira Deputada Federal (de 2018 a 2022)? 

Joênia Batista de Carvalho, conhecida como Joênia Wapichana, nasceu no dia 20 de abril de 1974 na comunidade indígena Cabeceira do Truarú, localizada na região Murupú e na zona rural do Município de Boa Vista-Roraima. É da etnia Wapixana (um grupo étnico aruaque). 

Aos 8 anos de idade mudou-se para a capital Boa Vista junto com a mãe. Na capital, teve que aprender o português, pois sua língua nativa era uapixana e dessa forma se apaixonou pelos estudos e pelo desejo de aprender.  Depois de concluir o ensino médio, passou a trabalhar em um escritório de contabilidade durante o dia, enquanto cursava Direito à noite na Universidade Federal de Roraima (UFRR), em 1997.  

Na época pouco se falava de representatividade dos povos indígenas e Joênia se pôs a desbravar o seu prazer pelos estudos. Em 2011 concluiu o mestrado em Direito Internacional pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

A partir de 2011, Joênia ganhou duas frentes de apoio para perseguir seus desejos: os indígenas que viam nela uma representante dos povos originários, defensora de direitos e teve apoio de seus estudos. Em 2018 foi a primeira vez que ela se candidatou para concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ela foi eleita com mais de 8 mil votos.

Joênia virou a líder do seu partido Rede Sustentabilidade e tornou-se presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o que lhe deu título de primeira mulher indígena a comandar a entidade. Ela é considerada ainda a primeira mulher indígena a ser eleita Deputada Federal, representando Roraima, durante as eleições de 2018. Antes dela, o único indígena eleito ao parlamento foi o xavante Mário Juruna, pelo Rio de Janeiro.

Uma das primeiras trocas que a então deputada destacou foi a mudança de terminologia do dia 19 de abril. Antes dela levantar essa questão, a data era difundida como o ‘Dia do Índio’ – termo considerado preconceituoso. Com a então Deputada Joênia, a terminologia passou a ser ‘Dia dos povos indígenas’ – sinônimo de povos originários, algo que gerou embates pelos outros parlamentares, inclusive o então presidente Jair Bolsonaro vetou a proposta logo no início do seu mandato. 

Em entrevista a Folha de SP na época, Joênia retrucou a postura do ex presidente:

“Rídiculo ele, né? vetou um projeto que é só uma terminologia, mas que significa muito pra gente que é o ‘Dia do Índio’ que o branco deu para a gente e que é usado para nos diminuir”. 

Poderia ficar aqui citando tantos outros caminhos que a Joênia Wapichana desbravou ao longo dessa sua trajetória de ser uma representante dos povos indígenas: demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol; o trabalho no departamento jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e na defesa de direitos de índios à posse de suas terras na Região Norte do Brasil; ou sua coragem de fazer um pedido de impeachment contra o presidente em 1° de fevereiro de 2021, alegando crimes contra a população indígena; ou mesmo eu poderia citar os mais 36 projetos expostos para a votação no Parlamento brasileiro que ela redigiu. 

Ao desbravar caminhos de estudos, no parlamento brasileiro, nas suas formas de ser presidente e pioneira em muitas das problemáticas ambientais e sociais que vivemos atualmente, Joênia, em suas próprias palavras e ações, nos ensina que: 

“Os wapichanas são estratégicos. Eu dizia às mulheres macuxis, que são de um povo guerreiro, que vai para o combate, que nós também somos guerreiros, mas nós conversamos, negociamos, usamos estratégia. Não é só com arco e flecha que se luta. Aqui a nossa arma é a caneta”, conclui Joênia Wapichana em entrevista à Folha de SP

Daniela Souza
Daniela Souza

Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).

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