A pesquisadora Michelly Carvalho, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Maria Firmina dos Reis, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz, ponderou sobre a importância de dialogar a respeito da dupla jornada e dos trabalhos não remunerados realizados pelas mulheres, tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último domingo (5).
Segundo ela, a discussão sobre essa invisibilidade do trabalho de cuidados feito pelas mulheres no Brasil e no mundo é extremamente importante porque a sociedade tende a dar pouco ou nenhum valor ao trabalho que as mulheres realizam em casa (no trabalho doméstico), no aspecto do cuidado realizado para com os filhos, a casa e com as pessoas idosas.
“No geral, segundo o estudo de 2019 do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], as mulheres trabalham 21 horas nesses trabalhos domésticos e os homens trabalham em média 11 horas, quando se fala de pessoas que estão no mercado de trabalho. As pessoas costumam dizer que é ‘algo menor’ como se não fosse um trabalho. Se esse trabalho fosse remunerado, seria um rendimento bastante significativo”, pontua Michelly que é também professora e desde 2017 se debruça sobre a temática de gênero e direitos das mulheres, sobretudo mulheres negras.
A pesquisadora destaca, com base em alguns estudos, que o que move e mantém a sociedade capitalista hoje, em todo o mundo, é o trabalho proveniente desse modelo de sociedade. “O que gira a economia mundial é esse trabalho, né?! O que sustenta a economia mundial é esse trabalho doméstico não remunerado.”
Sobre o Núcleo de Pesquisa Maria Firmina
O Núcleo de Pesquisa Maria Firmina dos Reis foi criado em 2019, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) de Imperatriz. É o primeiro grupo de pesquisa da universidade que dedica as suas pesquisas e estudos às temáticas de gênero, raça e feminismo na perspectiva da comunicação. “A gente tem outros grupos que trabalham questões mais relacionadas à sociologia”, explica Michelly.
Frente ao Núcleo existem três mulheres pesquisadoras e doutoras na área da comunicação que juntas se dedicam a coordenar pesquisas na área interdisciplinar da Comunicação que envolve gênero, feminismos, raça e cidadania. Segundo texto de apresentação no site do grupo, o objetivo é “ desenvolver e dar visibilidade aos estudos e atividades de extensão na área de comunicação, gênero e feminismos, na Universidade Federal do Maranhão/UFMA – Campus Imperatriz”.
O grupo surgiu pequeno, com poucos participantes, mas ao longo dos semestres foram incorporando outros estudantes e mais pesquisadores. “Inclusive, a gente tem pesquisadoras de fora do Brasil, da cidade de Coimbra, da Universidade Lusófona de Portugal. E temos parcerias com professores do curso de Jornalismo que participam também de outros grupos e de universidades também brasileiras, a exemplo podemos citar a Universidade Federal do Paraná e a Federal da Bahia. Temos hoje uma rede de contatos muito boa”. Michelly Carvalho apontou ainda que a invisibilidade do trabalho de cuidado feito pelas mulheres já faz parte das pesquisas do Núcleo.
Conheça mais no site do grupo.
Sobre o Enem
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), no último domingo (5), 71,9% dos 3,9 milhões de estudantes inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nem fizeram a primeira etapa da prova, sendo que 117.986 no Maranhão. A primeira etapa trouxe 90 questões de múltipla escolha de provas de linguagens, ciências humanas, além da redação, cujo tema foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).