Mural, instalação, contação de histórias e a presença de Quebradeiras de Coco de Petrolina compõem as homenagens realizadas na programação do Mês da Mulher
Ao entrar no Galpão do Centro Cultural Tatajuba, localizado em frente à Praça Brasil, no centro de Imperatriz, a primeira imagem que se vê à esquerda é o rosto de uma mulher que leva à cabeça uma cesta feita de palha. Já à direita, chama a atenção um grande mural que toma conta de todas as paredes do galpão e forma uma floresta de palmeiras de coco de babaçu. Um pouco mais adiante, entre as árvores, sentada ao chão, vê-se outra mulher, com um macete em uma mão e um coco em outra.
As mulheres retratadas na obra ‘Minha Vida Entre Palmeiras’, realizada a partir da técnica do grafite pelos artistas Lea Pac, Edermais e MS Graffit, são quebradeiras de coco, guardiãs das florestas e dos saberes tradicionais, e são as homenageadas no Mês da Mulher, pelo Centro Cultural Tatajuba, iniciativa que tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Além do mural, vê-se também ao fundo uma instalação artística, com cestas, tapetes, martelos, panelas e objetos que são utilizados no ofício das quebradeiras. Todo este cenário desperta afetos e memórias de quem tem ou já teve uma quebradeira de coco na família ou que sabe do valor e das inúmeras contribuições que elas dão para o patrimônio cultural e para as florestas maranhenses.
E para que o público pudesse adentrar ainda mais ao universo dessas mulheres, no Dia Internacional da Mulher, o Centro Cultural contou com a presença de duas Quebradeiras de Coco de Petrolina (Estrada de Arroz), localizada a 51,3 km de Imperatriz, Dona Raimunda e Maria de Jesus. As homenagens se estenderam até o fim da tarde do dia 8 de março, com direito a poesia, danças, capoeira, visita guiada e uma roda de conversa cheia de histórias compartilhadas pelas quebradeiras.

Patrimônio cultural
Aos 67 anos, Dona Raimunda explica que ser quebradeira de coco lhe desafia diariamente a ser forte e resistente. “Sou casada, tenho três filhos que hoje já são adultos e donos de si. Criei meus filhos quebrando coco. Saía de manhã para ir quebrar o coco, deixava o almoço pronto e as crianças na escola. Quando retornava pra casa, umas 4 horas da tarde, já levava alguma comida. Era muito bom e divertido com as companheiras e nossa… Como eu achava bom”, relembra Dona Raimunda com um olhar saudosista.
O coco babaçu, em tupi-guarani, significa “coco grande”. Sua cadeia produtiva tem como base o extrativismo, o que significa dizer que, do coco babaçu, se retiram substratos para a produção de diversos produtos naturais, como sabonete, azeite, leite de coco, entre outros. E é do coco que vem também a sustentabilidade de inúmeras famílias.
“Tiro coco desde criança e ainda hoje acho bom. Dá renda pra gente. Do coco, eu tiro meu azeite, faço o sabão, carvão, tempero a comida. São muitas coisas e ainda dá renda pra gente. Lá em Petrolina, nós temos um barraquinho que já tem uns 40 anos que estamos lá. 40 anos que o lugar é nosso. E nós não vamos sair porque lá é o nosso sustento”, afirma Dona Raimunda.

Guardiãs da floresta
A profissão, no entanto, também vive seus desafios, como as disputas pelo acesso às palmeiras e a luta contra o uso de agrotóxicos. Mas apesar das dificuldades, as quebradeiras dizem ter orgulho de serem instrumentos de proteção e preservação da natureza.
A Maria de Jesus tem 71 anos e, desde criança, exerce o trabalho artesanal de quebrar coco. Assim como Dona Raimunda, ela faz parte da Associação de Quebradeiras de Coco do povoado de Petrolina. Com outras mulheres que integram a associação, elas cultivam a irmandade, realizam ações de solidariedade em datas comemorativas e participam de movimentos sociais em defesa da agroecologia e meio ambiente.
Homenagens do Centro Cultural Tatajuba às quebradeiras de coco
No Dia Internacional da Mulher, a artista Jô Santos, a palhaça Peteleco e contadora de histórias, preparou uma visita guiada ao público que visitou o Centro Cultural Tatajuba e conversou com as quebradeiras sobre este ofício que vem sendo passado de geração a geração.
Explicação da Jô Santos de como ela se preparou para este dia.
A professora de dança e balé clássico, Rosana Feitoza, também realizou uma apresentação com 10 alunas, com o objetivo de homenagear as mulheres Quebradeiras de Coco. “Atendemos alunos a partir dos 7 anos, e preparar essas coreografias trouxe memórias afetivas, tanto pra mim que sou neta de quebradeira de coco, mas também para as alunas que se identificaram em todo o processo. Ouvia nos ensaios ‘a minha vó quebrava coco na roça’; ‘minha mãe quebrou coco’. A inspiração foi muito das nossas memórias afetivas. Tudo foi muito especial porque apresentamos e homenageamos as mulheres quebradeiras coco que são as raízes da natureza maranhense”, conta a professora.

Ela também ressaltou que a cada apresentação realiza um trabalho pedagógico com as alunas. “Contei a história das quebradeiras de coco, falei da resistência delas, sobre a luta que elas tiveram no passado até a aprovação da Lei do Babaçu Livre. Fiz todo um trabalho histórico e cultural com elas. Mais do que ensinar os movimentos em uma coreografia, tanto eu como professora já tenho uma experiência, mas também o Centro Cultural Tatajuba, temos a preocupação de fazer um trabalho cultural e educacional com os/as alunos/as”, completa.
A poeta, escritora e arte educadora Lília Diniz, durante sua participação na tarde de homenagens, empunhando seu pandeiro, apresentou ao público músicas, poesias e reflexões sobre as vivências das quebradeiras de coco babaçu em meio as cercas, pastos e palmeiras.
Filha de quebradeira de coco, Lilia Diniz explica as propriedades material e cultural das quebradeiras de coco e do coco babaçu:
Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).