Por meio do evento, a instituição buscou promover a conscientização desse público sobre o trabalho escravo ainda recorrente, além de ser uma forma de prevenir
O Dia Nacional de Combate ao Trabalho faz parte do calendário do país há 14 anos. A cada ano, as instituições que realizam ações em defesa dos direitos humanos procuram realizar eventos em alusão a data como forma de relembrar que o trabalho escravo ainda é uma realidade.
No município de Açailândia, localizado na região Sul Maranhense, a instituição Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos – Carmen Bascaran (CDVDH/CB) realiza ações de combate ao trabalho escravo há 25 anos. O 28 de janeiro não poderia passar despercebido, é o que explica a atual secretária executiva Yoná Luma.
“Todos os anos o CDVDH/CB realiza uma atividade específica nessa data, por sua importância, por ser nossa principal bandeira de atuação, mas também para refletir, prevenir, reprimir este crime tão desumano que ainda perpetua no país, sem muitas punições severas de fato, sem pessoas condenadas por esse crime. É uma rede que se alimenta da vulnerabilidade, da miséria, da ganância e da impunidade que assola o Brasil.”
A programação ocorreu nos 27 e 28 de janeiro e contou com o apoio do cineasta Renato Barbieri, diretor do filme ‘Pureza’, como forma de sensibilizar, por meio da exibição do filme, a reflexão sobre o crime de Trabalho Escravo que ainda é presente no país.
“A programação deste ano foi pensada para acontecer em todas as comunidades de atuação direta do CDVDH/CB – Açailândia (Centros Comunitários da Vila Ildemar, Capelosa e Bom Jardim), Santa Luzia – no bairro Acampamento, Pindaré Mirim – no Bairro Aline Salgado, e em Monção – no povoado Juçareira e Monção Sede. Todas essas comunidades têm alto índice de pessoas que já foram vítimas do crime de Trabalho Escravo e ainda continuam vulneráveis a ele”, ressalta.
Por meio do evento, a instituição buscou promover a conscientização desse público sobre o trabalho escravo ainda recorrente, além de ser uma forma de prevenir. “Em especial, provocar o poder público para que as políticas públicas sejam realmente efetivas dentro das comunidades porque só assim enfraquece este CRIME, quando se ataca as vulnerabilidades que permitem colocar as pessoas nessas condições”, explica Yonná.
A secretária executiva afirma ainda que o 28 de janeiro é uma data de luta, que não pode ser esquecida. “O Brasil tem uma memória histórica triste, até o último governo federal que estava no poder em uma de suas falas negou a existência desse crime. Então vemos ao longo do tempo que existe uma verdadeira engrenagem muito bem articulada que deseja varrer tudo isso para baixo do tapete de maneira a esconder o que realmente acontece.”
Segundo ela, a data representa um marco de um crime vergonhoso, vem persistindo por gerações e pessoas que lutam contra essa prática são coagidas. O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo estimula a busca por mecanismos que, mesmo com muitas dificuldades, estão em constante combate com a finalidade de buscar justiça às vítimas e aos combatentes dessa prática e promover a erradicação do Trabalho Escravo. “Além da chacina ocorrida em Unaí com autores fiscais do trabalho e seu motorista, muitas outras pessoas já morreram.”
CDVDH/CB
Yonná aproveita para explicar o contexto escravocrata a qual a população vulnerável socialmente vive. “O Maranhão é um estado escravagista e fornecedor de mão de obra escrava a diversos outros estados do País”.
O combate ao Trabalho Escravo é a principal bandeira da instituição desde 1996, quando membros da instituição na época se depararam com esse crime negado pela população e pelo poder público. Após identificar a presença de trabalho escravo na região, o CDVDH/CB começou a denunciar.
Dessa forma as atividades do Centro de Defesa se desenvolveram ao longo desses 25 anos em três segmentos:
Prevenção: desenvolvendo atividades que têm o objetivo de prevenir esta e tantas outras violações de Direitos Humanos. Dentro da instituição é fornecido atividades socioculturais e de formação cidadã para pessoas de todas as faixas etárias.
Repressão: Fazendo atendimentos comunitários gratuitos – jurídico, social e quando necessário psicológico de maneira gratuita às vítimas deste crime e de outras violações de direitos humanos.
Terceiro eixo é a Inserção: em que buscam formas de incidir de maneira direta na quebra do ciclo de Trabalho Escravo, compreendendo a importância de se criar uma rede de ação integrada de combate ao Trabalho Escravo. Nesse sentido buscam incidir nas causas que fortalecem esse crime, ou seja nas suas vulnerabilidades, e realizam ações de articulação, formação profissional e educacional de maneira a atender as comunidades em suas particularidades, sempre utilizando a escuta como forma de integração e participação das pessoas.
Formas de contribuir com a erradicação do Trabalho Escravo
Disque 100 para denúncias de violações de Direitos Humanos. Também podem denunciar por meio do aplicativo do Ministério Público chamado de Pardal. As denúncias são anônimas, ou através dos canais de comunicação do CDVDH/CB que você encontra na rede social @centrodedefesa.
“Quem desejar assistir o filme tem disponível no globoplay. Por fim ressalto a importância de fortalecer o combate a este crime que precisa ser feito, desde as suas causas, passando por processos eficazes de acesso a políticas públicas de quem realmente precisa, a atividades de prevenção, até as denúncias e fiscalizações realizadas a partir dela para por fim culminar na responsabilização desse crime de maneira severa. É assim que todo este País precisa caminhar em conjunto, em rede, contra algo tão covarde e desumano. Adiante Sempre.
Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).