Uma pesquisa feita na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), de Imperatriz, releva que 73% das professoras dos cursos de Comunicação nos programas de pós-graduação do Nordeste consideram seu ambiente de trabalho machista. A doutoranda Janaína Lopes, integrante da equipe da pesquisa, destaca o fato dessas violências ocorrerem em um lugar onde deveria haver maior igualdade.
“A gente está falando de um espaço em que as pessoas que atuam ali têm mais ou menos a mesma qualificação profissional, percorreram a mesma trajetória e de um espaço que não lida, por exemplo, com as lógicas que são mais mercadológicas. E ainda assim, as mulheres são constantemente submetidas a violências de gênero e racial”, diz.
O estudo “Assédio a professoras no ensino superior: estudo sobre a realidade nos programas de pós-graduação no Nordeste”, foi financiado pelo CNPq e coordenado pela professora Thaísa Bueno (PPGCOM-UFMA), com participação de professoras e pesquisadoras da UFMA e da UFPA.
Foram identificadas 70 professoras que atuam em programas de pós-graduação na área de Comunicação em oito estados nordestinos, exceto Alagoas. Juntos, os estados oferecem um total de 12 programas de pós, tanto em instituições públicas quanto privadas. Sergipe, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará contam com um programa cada, enquanto Pernambuco, Bahia, Maranhão e Paraíba oferecem dois. Dessas docentes, 37 responderam a um questionário e 12 participaram de entrevistas aprofundadas.
A professora doutora Leila Sousa, pesquisadora do projeto, destaca que muitas docentes demonstraram dificuldade em reconhecer situações de assédio, o que revela como certas violências acabam sendo naturalizadas no ambiente acadêmico. “O que mais chamou a atenção é o desconhecimento e a dificuldade de nomear o que é o assédio, porque muitas das professoras, quando a gente iniciava a entrevista, diziam nunca ter sofrido. E aí, à medida que a gente ia conversando, as professoras se tocavam que já tinham sido vítimas”, afirma.
De acordo com a pesquisa, 31% das professoras afirmaram já ter sofrido assédio moral, praticado principalmente por colegas de trabalho e alunos do sexo masculino. Janaína Lopes fala que as mulheres relataram situações de assédio que envolvem desde piadas sexistas até a desqualificação profissional. “Disseram terem que enfrentar estereótipos de gênero ao terem seus métodos questionados, por terem que agir de formas mais duras para serem respeitadas, além do fato etário, já que as mulheres jovens, no início da carreira, precisavam se reforçar mais para se afirmar nesse espaço acadêmico”, comenta.
No estado do Maranhão, Leila Lima observa que o assédio se mostra mais presente em áreas consideradas “femininas”, como a Comunicação. “Então, os homens que estão nessa área, mesmo que estejam em posição de poder igual a da gente, eles se sentem autorizados e legitimados a assediar”.
A pesquisa ainda mostra que só 16,3% das docentes ocupam cargos de chefia, mesmo sendo maioria nos cursos da área. “É como se existisse um pacto masculino que privilegia os homens. Mesmo que não tenha a qualificação necessária, mesmo que não tenha a produção necessária, mas qualifica eles nos editais, no ganho de bolsas, na distribuição de bolsas e de cargos, nos cargos de maior visibilidade de protagonismo”, reforça a professor doutora.
Outro dado importante é que apenas 40,5% das professoras disseram que suas instituições possuem canais de denúncia que realmente funcionam. As pesquisadoras destacam que é preciso fortalecer as ouvidorias, com profissionais preparados para lidar com casos de violência de gênero. “Pensar em um protocolo de denúncia e na divulgação deste protocolo que seja claro como se dá o acolhimento, os encaminhamentos e medidas dos atos”, explica a doutoranda Janaína Lopes. Ela também diz que os casos precisam ser investigados com seriedade e que os agressores devem ser responsabilizados.
Sou Ana Maria Nascimento (ana.mcn@discente.ufma.br), estudante do 7° período do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus Imperatriz/MA. Gosto muito de escrever conteúdos culturais e acredito que o jornalismo se faz no encontro com o outro e na escuta que respeita.
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