76,6% (quase 126 mil pessoas) que vão realizar a primeira parte da prova do Enem neste domingo (5) são isentos da taxa de inscrição
Os cursinhos populares são uma das grandes alternativas para estudar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os lugares que oferecem cursinhos populares em Imperatriz e Região se resumem a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) por meio do grupo interdisciplinar no Programa de Educação Tutorial (PET-Conexões de Saberes); a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul) e nos municípios vizinhos do estado do Tocantins, tem o cursinho Popular do jovem Elves Felipe de Brito Santos, de 26 anos.
Os cursinhos populares têm como característica oferecer oportunidade de aprendizagem dos principais conteúdos que compõem a prova do Enem. O cursinho oferecido pelo PET foi criado em 2020 de forma remota. A estudante do último período de Jornalismo, Fabiana Viana, bolsista do PET, faz parte da organização do curso e conta que o cursinho popular foi criado com o intuito de ajudar alunos da rede pública, que não têm condições financeiras de pagar por um cursinho preparatório.
“Todo final do ano a gente se reúne e fazemos o planejamento para o ano seguinte. A gente já vai vendo o que deu certo e o que não deu no ano anterior para irmos modificando no ano seguinte. Assim, todo início do ano já temos o planejamento pronto e colocamos em prática.”
Ela conta que no início do cursinho o foco era apenas alunos que cursam o terceiro ano do Ensino Médio. Disponibilizaram 100 vagas e apenas 40 alunos se inscreveram. “Fizemos uma boa divulgação, fomos nas escolas divulgar. Levamos panfletos explicando o que é o PET, e o que é o cursinho popular, só que a gente não teve a demanda que esperávamos.”
Após essa constatação, a equipe do PET resolveu mudar os critérios e, além dos alunos que cursam o terceiro ano do ensino médio em escola pública, incluíram alunos egressos do ensino médio e que também estudaram em escolas públicas. Fabiana explica como funciona o cursinho oferecido pelo PET atualmente.
“O nosso cursinho é totalmente gratuito. A gente sempre vai em busca de professores voluntários que podem estar disponibilizando suas aulas. Esses professores ganham um certificado de 40 horas, temos colaboradores, temos alunos que já estão na metade do seu curso [superior], que vem ser voluntário nessa ação. O cursinho está sob nossa responsabilidade, a gente vai atrás dos professores, colaboradores, vamos atrás dos alunos e damos toda assistência que o aluno precisa.”
A estudante destaca ainda que o PET disponibiliza materiais e atividades que possivelmente poderiam cair no Enem. “Temos aula de geografia, matemática, língua portuguesa e redação. O cursinho vai somente até o sábado que antecede o último dia do Enem. Temos um grupo de WhatsApp que é nosso meio de nos comunicar, enviar essas atividades ou tirar as dúvidas desses alunos. Depois que acaba o cursinho a gente continua nesse grupo do WhatsApp dando todo o suporte, porque depois que passa o Enem aí vem o Sisu, Prouni e o fies, tem muito alunos que não sabem como fazer a inscrição, como escolher o curso, então a gente continua no grupo dando suporte e auxiliando.”
De 2020 até hoje o grupo já atendeu mais de 200 alunos de escolas públicas de Imperatriz. Em 2022 os organizadores do cursinho contabilizaram cerca de cinco pessoas que conseguiram entrar para a Universidade por meio dos estudos no cursinho do PET.
Cursinho popular do Programa de Educação Tutorial (PET) Conexões de Saberes. (Imagens: Fabiana Viana)
Região Bico do Papagaio – estado do Tocantins
Outro cursinho popular bastante famoso na região tocantina é do Elves Felipe, pedagogo e estudante do último período de Direito na Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). Elves reside em Axixá-TO e desde de 2020 oferece cursinhos preparatórios para o Enem na área de redação, considerada a parte mais difícil e preocupante do Exame.
Elves relata que iniciou o cursinho popular na pandemia. “Sempre gostei de ajudar as pessoas. Após finalizar o ensino médio eu juntamente com alguns amigos montamos um grupinho de estudos para ingressar na universidade. Cada um ajudava o colega com a matéria que tinha mais finalidade. Eu sempre ficava para ensinar redação.”
O jovem destaca que quando receberam o resultado da prova, três colegas do grupinho de estudos foram aprovados com notas altíssimas na redação. “Na época eu fazia cursinho online em uma plataforma de estudos, praticava bastante a escrita, além de ler muitos materiais sobre. Lembro que fui aprovado em letras na Unitins, porém não sabia muito bem o que fazer da minha vida e acabei desistindo.”
Depois do resultado com nota máxima na redação, Elves relembra que algumas pessoas passaram a entrar em contato para terem aulas com ele. Ele ficou disposto a dar as aulas e, no tempo, Elves ministrou essas aulas na escola estadual chamada Marechal Ribas Júnior, no estado do Tocantins.
“Porém, do grupo, apenas eu continuei ensinando redação sem recursos e pouquíssimo apoio eram os primeiros integrantes que me passava todos os meses 20 reais para impressão dos materiais e o que sobrava eu ficava como um incentivo cerca de R$40 reais, porém eu não estava nem aí só queria ensinar”, declara sorrindo.
No período da pandemia, foi que Elves sentiu a necessidade de formalizar o seu cursinho de redação preparatório para o Enem. “[na pandemia] surgiu uma nova oportunidade: o ensino à distância. O que antes era restrito apenas em Axixá, vários outros estudantes passaram a participar. Muitos tinham curiosidade em saber ‘quem é esse rapaz de Axixá que ajudava os estudantes a entrar na universidade por um valor super abaixo do mercado’”.
Elves ganhou credibilidade nos municípios que estão localizados na região conhecida como Bico do Papagaio, no estado do Tocantins, que compõem mais de 20 municípios, vizinhos a cidade de Imperatriz. A credibilidade no seu modo de ensinar veio depois de ter pontuado por duas vezes 980 na redação do Enem e ter passado em mais de 10 faculdades, inclusive na Universidade de São Paulo (USP) em 1° lugar para o curso de Letras, 1° lugar em administração na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e 1° lugar em nutrição na Universidade Federal do Tocantins (UFT).
“Atualmente tenho mais de 100 jovens, de várias cidades do Bico do Papagaio, até de Araguaína, Palmas, Paraíso do Tocantins, Imperatriz, Goiás, Pará, que estudaram no cursinho que ofereço e eles passaram para estudar ensino superior. Hoje em dia faço aulão na véspera da prova do Enem, dou aulas particulares também (porque preciso sobreviver com o meu trabalho), ofereço 40% das vagas para bolsas de estudos para se prepararem comigo, vou nas escolas públicas oferecer aulas voluntariamente e faço um trabalho entre voluntariado no cursinho popular de redação e outras aulas particulares.”
Elves em atividade no município de Sampaio -TO e online assim que iniciou o cursinho. (Imagens: Arquivo pessoal Elves Felipe)
Sobre perfis dos jovens e adultos nas provas do Enem 2023
A prova da primeira parte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) acontece no próximo domingo (5) com a participação de 165.769 mil inscritos no Maranhão, sendo a maioria mulheres e de baixa renda.
O número representa 4,2% a mais de 3,9 milhões em todo o Brasil. Dos 217 municípios, a prova acontece em apenas 76 municípios maranhenses, em 544 locais de prova e 5.367 salas de aplicação, segundo o site do Ministério da Educação (MEC). Mulheres são maioria – equivalem a 62,2% (103.177) das inscrições, enquanto homens representam 37,8% (62.592).
Dos participantes, 76,6% (125,98444) são isentos da taxa de inscrição e apenas 23,4% (38.815) pagaram a taxa. A participação gratuita no Enem é prevista para pessoas que se enquadram em, pelo menos, um dos seguintes perfis:
Matriculados na 3ª série do ensino médio (neste ano de 2023), em escola da rede pública declarada ao Censo Escolar; Quem fez todo o ensino médio em escola pública ou como bolsista integral em escola privada; Pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica por serem membros de família de baixa renda – com registro no Cadastro Único para programas sociais do governo federal (CadÚnico).
Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).