Estreito e cidades vizinhas sofrem impactos negativos na economia após queda da ponte

Setores do comércio e serviços são os mais afetados, a maior parte deles são focados em demandas que envolvam o transporte rodoviário

Após 25 dias da tragédia anunciada da ponte Juscelino Kubitschek, que ligava as cidades de  Estreito no Maranhão e Aguiarnópolis no Tocantins, o Corpo de Bombeiros continua a busca para encontrar os corpos que ainda restam. Além da espera dos familiares dos corpos das três vítimas que ainda não foram encontradas, há uma esperança da população para a ponte ser reconstruída o mais rápido possível. 

Os moradores de Estreito e proximidades reclamam que o comércio local teve diminuição, os mais impactados são os setores de comércio e serviço. Segundo a Associação Comercial de Estreito, 70% das empresas prestam serviços para demandas que envolvam transporte rodoviário.

Centro comercial de Estreito antes da queda da ponte – crédito da foto: Estreito Online

Seu Dimar dos Santos é mototaxista, mora em Ribamar Fiquene, no Maranhão, 75 km de Estreito, ele conta que desde a queda da ponte viu as viagens para as cidades vizinhas despencaram: “Antes eu conseguia fazer 200 reais em um dia, hoje com a queda da ponte consigo fazer até 70 reais”. Ele complementa fazendo um apelo às autoridades: “Que as autoridades reconstruam o mais rápido, a gente precisa trabalhar, só sou mototáxi e dependo disso para sobreviver, o meu trabalho e de muitos mototaxistas dependem da ponte”.

Edinalva dos Reis, também mora em Ribamar Fiquene, ela tem um restaurante de frente a BR-010, ela diz que desde a queda da ponte, o restaurante dela vem diminuindo a clientela drasticamente, pois a maior parte de quem consome em seu restaurante são os caminhoneiros: “Aqui no meu restaurante tem oito mesas, cada uma com quatro cadeiras. Eu trabalho há quatro anos com restaurante, sempre estava lotado, tinha gente que aguardava desocupar mesa para almoçar. Antes eu faturava até 2 mil reais em um dia, hoje tô conseguindo faturar 125 reais em um dia”. 

Restaurante da Edinalva sem movimento por conta da queda da ponte. Foto: Edinalva dos Reis

Segundo a autônoma, ela fez um empréstimo antes do acontecido, para melhorar o ambiente do restaurante, mas a situação complicou e teve que demitir as duas únicas funcionárias pois não conseguia pagar mais o salário: “Eu não consigo mais pagar salário para as funcionárias, hoje consigo vender 5 refeições em um dia, isso não dá mais lucro, estou sozinha agora”.  

Seu Josineto Lima, mora em Estreito e também trabalha com restaurante, para ele os restaurantes mais afetados estão nas proximidades da BR-010. O estabelecimento dele é no centro, ele diz que foi afetado, mas não igual os que recebem caminhoneiros e viajantes: “Meu restaurante fica no centro, muitas pessoas que vão lá, são pessoas que vão ao comércio para resolver pendências. Por conta da queda da ponte não vem mais pessoas de Aguiarnópolis, 80% das pessoas que frequentavam o meu restaurante são de lá e vinham resolver as coisas aqui na cidade”. 

O comerciante Marcos Vinicius, empreende no ramo de calçados há quatro anos, o impacto foi bastante negativo nas vendas. “O mês de janeiro é um mês de vendas mais fracas, pois passa todas as datas festivas de fim de ano, mas eu percebo uma diminuição em relação ao ano passado de 40%. Um impacto bastante negativo”. 

Lucas Sousa, veio de Imperatriz para Estreito para empreender, abriu uma loja de colchões em agosto de 2024. Desde quando abriu a loja ele mesmo faz as entregas dos colchões: “A gente se sente prejudicado, eu entendo que é um ramo específico, mas o mês de janeiro foi o pior mês desde que me mudei com minha família para cá.”

O empreendedor conta que tudo se torna mais complicado, pois muitos clientes são do Tocantins: “Esse mês conseguimos fazer uma venda para um cliente de Palmeiras do Tocantins, uma cidade localizada a 20 km daqui. Com paradas e sem a ponte, o máximo de tempo gasto seria de uma hora. Mas nesta entrega eu demorei umas 4 horas, pois tive que ir em Porto Franco, pegar balsa, estava tudo lotado, fora o trajeto entre Tocantinópolis e Palmeiras”.

O prejuízo também chegou ao estúdio de estética de Samara Marinho, ela é podóloga e manicure, a maioria dos clientes são de cidades do Tocantins: “As pessoas que usufruem dos  meus serviços são de outros lugares, minha clientela boa parte é de Palmeiras, Aguiarnópolis e Tocantinópolis. Eu fazia em média 5 mil reais por mês, estamos na metade do mês e até agora consegui fazer 2 mil, o movimento está muito fraco”. 

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), publicou no dia 31 de Dezembro de 2024, no Diário Oficial da União informações sobre a contratação da empresa que vai construir a nova ponte. O orçamento é de R$171.969.000,00, as empresas contratadas Gaspar S/A e Arteleste Construções terão 12 meses para elaborar os projetos de engenharia e construir a nova ponte. 

Destroços da ponte de Estreito – Reprodução Corpo de Bombeiros

A Prefeitura Municipal de Estreito em parceria com o DNIT e a Marinha do Brasil deu início a construção de um acesso para instalação do porto de uma balsa que será utilizado para a travessia entre os estados do Tocantins e Maranhão.  

O acidente vitimou 18 pessoas, uma foi resgatada com vida, 14 corpos foram encontrados e três corpos estão desaparecidos. O comandante do 3° Batalhão de Bombeiros Militar de Imperatriz explica que as buscas por mergulhos foram suspensas por conta da alta vazão da água, ocasionada pela Usina Hidrelétrica de Estreito: “Nós tivemos que suspender as buscas por mergulho por conta do alto nível do rio, nós não temos janela de mergulho, mas continuamos as buscas na superfície” afirma o comandante Magnum Coelho. 

Rennan Oliveira

Me formei em jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão em 2024, trabalhei em produção de TV, produção publicitária e analista de comunicação. Atualmente trabalho como repórter freelancer no Portal Asssobiar, desenvolvendo pautas com temáticas em cultura e direitos humanos. Me interesso por jornalismo cultural e comportamento.

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