Um estudo pioneiro analisou registros de mais de 17 mil casos de atendimento a vítimas de picadas de animais peçonhentos no estado e revelou que os relatos clínicos careciam de informações essenciais à saúde pública, como a evolução do envenenamento, classificação dos sintomas e a identificação da espécie envolvida.
De acordo com a pesquisa realizada por cientistas da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 18% dos casos de envenenamento por serpentes não possuíam informações essenciais à saúde pública. O estudo identificou a necessidade urgente de melhor treinamento de profissionais da saúde para lidar com acidentes desse tipo. Além disso, a escassez de centros de saúde com soro contra veneno de cobra (antiveneno) é um desafio crítico a ser enfrentado.
O estudo baseou-se na análise de 17.658 registros de acidentes, entre 2009 e 2019, causados por serpentes de importância médica no Maranhão, obtidos através das fichas de notificação compulsória fornecidas pela Secretaria de Saúde do estado. Embora o preenchimento dessas fichas seja obrigatório em todo o território nacional desde 1986, a ausência de informações pode levar a tratamentos inadequados, comprometendo a saúde das vítimas.
Outros aspectos destacados no estudo indicam falta de treinamento e possíveis inadequações na terapêutica adotada, uma vez que algumas fichas relatavam sintomas que não condiziam com o gênero da serpente informada como causadora do acidente, apontando inconsistências no reconhecimento clínico dos sintomas.
Preencher as fichas de notificação corretamente permite a coleta de informações para o planejamento de cuidados de saúde eficazes, não apenas a nível estadual, como no caso do Maranhão, mas em todo o país. O tempo decorrido entre a picada e o atendimento médico está diretamente relacionado à gravidade do envenenamento por picada de cobra, tornando o acesso precoce a cuidados médicos especializados crucial.
Diante disso, as pesquisadoras enfatizam a necessidade de ações de curto prazo para capacitar profissionais de saúde a lidar com acidentes provocados por serpentes, a fim de evitar perdas de vidas evitáveis. O próximo passo envolve a preparação de informações para divulgação acessível aos habitantes do Maranhão e às Secretarias de Saúde, com estudos semelhantes em andamento em âmbito nacional, incluindo o Rio de Janeiro e a Amazônia, cujos resultados devem estar disponíveis em breve.
O artigo com os resultados da pesquisa foi publicado na sexta, 6 de outubro, na ‘Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical’, disponível em inglês. E traz dados importantes como:
- O atendimento médico demorou em média três horas após a picada, destacando a necessidade de resposta mais rápida.
- A maioria dos casos foi classificada como leves, mas houve 139 mortes, enfatizando a gravidade do problema.
- Vítimas mais comuns tinham entre 20 e 39 anos, com destaque para trabalhadores rurais.
- Manifestações clínicas locais incluíram dor, edema (inchaço) e equimoses (hematomas), enquanto as sistêmicas envolveram neuroparalisia (Paralisia determinada por lesão de uma parte do tecido nervoso), síndrome vagal e miólise (destruição de tecido muscular).
- Maioria das picadas ocorreram nos meses de janeiro a março, com notificações mais frequentes em Buriticupu (936), Arame (705) e Grajaú (627).
- O Maranhão registrou 17 espécies de serpentes peçonhentas, com a segunda maior incidência no Nordeste e quarta no Brasil.
- Falta de estudos detalhados ressalta a necessidade de melhorias nas estratégias de saúde pública.
Fonte: Com informações da Agência Bori