A guerra não tem rosto de mulher – Svetlana Aleksiévitch

O Dia Internacional das Mulheres é celebrado, anualmente, no dia 8 de março. A ideia de uma comemoração anual surgiu depois que o Partido Socialista da América organizou o Dia das Mulheres, em 20 de fevereiro de 1909, em Nova York — uma jornada de manifestação pela igualdade de direitos civis e em favor do voto feminino. Operários metalúrgicos acabaram se juntando à manifestação, que se estendeu por dias e acabou por precipitar a Revolução de 1917. Nos anos seguintes, o Dia das Mulheres passou a ser comemorado naquela mesma data, pelo movimento socialista, na Rússia e em países do bloco soviético.

É com essa entrada que hoje venho falar sobre o livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, de Svetlana Aleksiévitch, filha de dois professores, sendo o pai bielorrusso e a mãe ucraniana, nasceu em Stanislav, hoje Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, em 1948, mas cresceu na Bielorrússia. Estudou jornalismo na Universidade de Minsk a partir de 1967 e depois de completar o curso mudou-se para Beresa, na província de Brest, para trabalhar no jornal e escolas locais. Durante esse tempo debateu-se entre a tradição familiar de trabalhar no ensino e no jornalismo. Trabalhou depois como repórter na imprensa local de Narowla, no voblast de Homiel. Svetlana foi galardoada em 2015 com o Nobel de Literatura pela sua escrita polifônica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época.

Em A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, ela entrevista mulheres que atuaram na Segunda Guerra Mundial e, diferente da forma como esse tema é abordado em filmes hollywoodianos ou outros livros, onde as mulheres atuam apenas como enfermeiras ou por datilografar cartas pra avisar as famílias, também não contam as mulheres que ficaram em casa e tiveram que cuidar do patrimônio, dos filhos… porque quando pensamos nas batalhas, nas grandes guerras, sempre imaginamos os homens na linha de frente, mas nesse livro, Svetlana relata que mulheres não só lutavam como treinavam e preparavam jovens para guerra. Então a questão de o serviço militar ser exclusivo para homens já foi algo recente.

No livro ela dá vozes a mulheres que foram, por exemplo, franco-atiradoras, snipers, pilotavam aviões, estavam no front das batalhas. Ela recolhe depoimentos de centenas de mulheres e os organiza pra escrever esse livro, geralmente esses relatos são contados em primeira pessoa que ela intercala com histórias pessoais dela e você percebe que são relatos bastante doloridos. Uma vez ou outra ela dá voz pro relato de algum homem e você percebe que eles diminuem e muito a atuação dessas mulheres.

Tem relatos de mulheres que naquele momento deixaram de menstruar, as que não tinham o que usar durante as menstruações, não tinham uniformes preparados para elas… é relatado a sensação de não pertencimento, pois quando os homens voltavam da guerra eram condecorados, enquanto elas eram estigmatizadas e proibidas de falar sobre o assunto. Outra coisa que percebemos ao ler esse livro é a forma como essas histórias de guerra são contadas, os detalhes apesar de difícil, costumam ter uma sensibilidade, uma emoção, tem aqueles detalhes da natureza, do ambiente da guerra.

Então recomendo fortemente essa leitura que embora hoje esteja disponível em qualquer prateleira de livraria, o mesmo foi censurado na época. Inclusive algumas das mulheres que foram convidadas a relatar o que pensaram, constantemente perguntavam “a gente já pode falar sobre isso?”. A face feminina da guerra ainda nos é estranha. O que Svetlana faz, acima de tudo, é ajudar a demonstrar o quanto, mesmo majoritariamente esquecida pela história, a participação feminina foi essencial.

Andrelva Sousa
Andrelva Sousa

Graduada em Serviço Social pela UNISULMA e faço parte do Clube de Livros Mulheres em Prosa que é um grupo de leitura de mulheres que leem mulheres e que se reúnem uma vez a cada dois meses para debater uma obra de autoria feminina. Nessa coluna, pretendo compartilhar com vocês sobre as leituras que já fiz e quais as percepções que elas me trouxeram. Uma frase que gosto muito é da Rosa Luxemburgo que diz o seguinte: ”Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”.

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