Vou continuar lendo ou rechaçar?

J.K. Rowling é uma autora que desperta amor e ódio. Os fãs de Harry Potter amam a série e muitos cresceram lendo seus livros, mas após ela se declarar transfóbica, muitas pessoas, inclusive fãs, ficaram chocados com seus tweets fazendo declarações contrárias aos direitos das pessoas transgênero.

Seria possível separar a obra do autor?

Ano passado, em uma fase de ressaca literária, resolvi ler suspense e o Kindle me indicou um autor chamado Robert Calbraith. Comecei a ler “o chamado do cuco” e fui tomada de surpresa por uma escrita viva, com personagens densos e uma trama muito bem amarrada. 

Surpresa total ao saber que Robert Calbraith é um pseudônimo de J.K. Rowling quando terminei o livro e fui ler sobre o autor. 

Neste momento me veio a questão do autor e sua obra.

Sempre me pergunto sobre isso, principalmente porque eu lia com meu filho os primeiros livros de Harry Potter e fiquei encantada com sua escrita e com a história, mas naquele momento, resolvi ficar de fora deste embate. 

Será que agora, tomada pela história de Robin Elacott e Cormoran Strike eu desistiria de dar continuidade à série de livros porque a autora é transfóbica? 

Ler um livro dela me faz transfóbica ou estaria eu cometendo crime de ódio?

Será que o autor assim como nós não tem incongruências? Será que deixar de ler um livro tão bem escrito por se tratar de uma autora com sua visão de mundo própria e que não faz sentido pra mim, faria de mim uma pessoa melhor?

Tenho pensado sobre isso, principalmente porque estes dias o tribunal da internet caiu em cima de Kafka por sua vida sexual ser permeada de pornografia. Os livros dele deixaram de fazer sentido pra mim?

Tenho me perguntado se eu deixaria de ser psicanalista se eu levasse em consideração que no início da sua clínica Freud fazia hipnose em seus pacientes.

Se colocarmos uma lupa, nenhum autor sai incólume de situações polêmicas pois escritores, cineastas, filósofos e outros intelectuais são avaliados por causa de suas escolhas políticas, ideológicas ou da declaração de seus preconceitos, a despeito de terem produzido obras consagradas e premiadas.

Cabe a nós absolvê-los?

Antes de inocentar ou condenar, cabe lembrar que cada artista é um sujeito passível de falhas e de erros, fruto de sua época, vivências, identificações e seu modo de estar no mundo.

Enquanto penso se devo separar autor da obra, vou me deliciando com as histórias de Robin e Strike…

Update:

Se você ficou com vontade de ler a minha série favorita da vez, trata-se da história de Cormoran Strike, filho ilegítimo de um famoso cantor londrino e uma groopie, que após a terminar a faculdade, vai para o Afeganistão e perde uma perna. Resolve não continuar nas forças armadas e coloca uma agência de investigação.

Robin Elacott fica noiva, vai morar com seu noivo em Londres e vai trabalhar com Strike na agência como secretária. Aqui começa a magia… 

Lília Sampaio
Lília Sampaio

Sou Lília Sampaio, psicóloga em Salvador, Bahia e uma psicanalista que gosta de histórias. Em minhas horas vagas, gosto de meus discos, livros, filmes, bichos, plantas, saidinhas com amigos e ficar em casa com minha família. Se você desejar fazer análise, faço atendimento presencial e online.

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Além das crises: as individualidades na infância atípica

No texto, a autora, também professora, aborda a necessidade de enxergar as crianças além de seus diagnósticos, especialmente quando se trata de autismo. Ela destaca a importância de não limitar as crianças por rótulos, mas sim de proporcionar experiências que promovam seu desenvolvimento integral, incluindo habilidades sociais e emocionais.

Achados na feira de troca de livros

Participar da feira de trocas de livros da biblioteca se torna um ritual cativante para a narradora, que descreve sua experiência de escolher cuidadosamente livros para trocar, encontrar preciosidades nas mesas de troca e se encantar com os achados literários. A atmosfera acolhedora e a oportunidade de renovar sua coleção de forma econômica e sustentável tornam essa experiência inesquecível.

HQ de Fato – Luto é um lugar que não se vê e O Novo Sempre Vem

HQ de Fato apresenta duas histórias impactantes. “Luto é um lugar que não se vê” aborda o cuidado amoroso em meio ao luto, enquanto “O Novo Sempre Vem” narra a vida e inspirações de Vannick Belchior, filha do icônico cantor Belchior. Ambas as narrativas oferecem uma visão sensível e reflexiva sobre amor, perda e herança emocional.

Uma crônica sobre uma crônica

O autor relembra uma crônica de Paulo Mendes Campos que oferece orientações para uma jovem de 15 anos, conectando-a à sua própria experiência ao escrever uma carta não enviada para si mesma. Discute a complexidade das relações humanas e da experiência de leitura, revelando sua preferência por obras específicas e abordando a incerteza subjacente à seleção de livros e à compreensão dos outros.

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