Livros para aquecer o coração

Admito, na maior parte do tempo meu espírito de Maria do Bairro sofredora – aquela personagem de novela mexicana protagonizada pela cantora e atriz Thalia – se sobressai. Com isso, quero dizer que, em geral, tenho tendência a livros mais densos e até tristes, que me deixam refletindo por dias a fio. Mas, às vezes, para balancear, opto por livros leves e que deixam o meu coração quentinho: uma fuga temporária em um mundo caótico.

As poesias de Manoel de Barro são chamas brandas que também queimam, assim como as de Mario Quintana, Cecília Meireles, Cora Coralina, Conceição Evaristo, Carlos Drummond de Andrade e Hilda Hist. Atualmente, estou lendo a poesia reunida da Sylvia Plath. Não posso dizer que sejam poemas felizes, mas Plath provoca pequenos incêndios.

Os livros da Ana Claudia Quintana Arantes, médica paliativa, também estão na minha seção de “coração quentinho”. Ela tem alguns livros publicados, mas os meus favoritos são: “A morte é um dia que vale a pena viver: E um excelente motivo para se buscar um novo olhar para a vida”, “Pra vida toda valer a pena viver: Pequeno manual para envelhecer com alegriae “ Histórias lindas de morrer”. Ana tem uma capacidade ímpar de falar sobre a morte, mas, sobretudo, sobre a vida, com histórias inspiradoras e inesquecíveis.

Algumas vezes, os livros tratam sobre assuntos delicados, mas o autor consegue trazer alento através de sua escrita. É o caso da jornalista Eliane Brum, em livros como “A vida que ninguém vê”, “O olho da rua” e “A menina quebrada”. E do Eduardo Galeano em “Os filhos dos dias” e “O livro dos abraços”.

Já fui tomada de uma alegria despretensiosa ao ler livros como “Anarquistas, graças a Deus”, memórias de infância de Zélia Gatai, “Cartas perto do coração”, correspondências trocadas entre Fernando Sabino e Clarice Lispector, “O retorno e terno”, de Rubem Alves e as tirinhas da Malfada, de Quito.

Recentemente li “O Castelo Animado”, de Diana Wynne Jones, livro que inspirou a clássica animação homônima do Studio Ghibli. Ambos são ótimos e é impossível finalizá-los sem um sorriso. Estou quase na metade da autobiografia do Bono, vocalista de uma das minhas bandas favoritas, o U2. Surpreendentemente, é um livro que tem me deixado com o coração aquecido e, por vezes, me arrancado boas gargalhadas. Em “Surrender: 40 canções, uma história”, os capítulos têm nomes de músicas e o Bono nos transporta para momentos importantes da sua vida, a trajetória da banda, suas autorreflexão sempre recheadas de senso de humor e fé.

Minha lista de livros para aquecer o coração não é muito extensa, verdade seja dita – mas esses e outros livros que li e que me fizeram refletir sobre meus próprios sentimentos ou tocaram meu coração são como a sensação calorosa de se sentar próximo a uma fogueira e ficar muito bem aquecida.

Idayane Ferreira

“Jornalista com “abundância de ser feliz”, mais “da invencionática” do que “da informática”, acredita piamente que Manoel de Barros escreveu “O apanhador de desperdícios” baseando nela.“

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