“Bumba – Amor e Liberdade” é o tema 2023 da Junina Flor de Mandacaru, de Açailândia (MA)

No dia 08 de abril, Sábado de Aleluia, o Portal Assobiar esteve presente na festa de lançamento do tema do espetáculo 2023 da Junina Flor de Mandacaru, de Açailândia (MA). Se você acompanhou nossa cobertura ou olhou as redes sociais da Junina, já sabe qual é o tema de 2023, mas vale relembrar: “Bumba – Amor e Liberdade”. 

Antes de começar a contar os bastidores do lançamento da Flor, gostaria de trazer um pouco do contexto da nossa primeira cobertura de lançamento de tema e de como chegamos às quadrilhas juninas estilizadas.

Em março, o Portal Assobiar cobriu pela primeira vez a festa de lançamento de uma quadrilha junina, no caso a Matutos do Rei. Na ocasião, a Daniela Souza esteve presencialmente na festa, conversou com os brincantes, registrou tudo em fotos e vídeos, fez stories, tentou adivinhar o tema pela decoração do ambiente e se entusiasmou com a empolgação dos quadrilheiros. Enquanto isso, há milhares de quilômetros de Açailândia (MA), eu acompanhava a festa pelas redes sociais, dando suporte técnico e trazendo alguns conteúdos extras sobre temas anteriores da Junina.

Avaliamos o que funcionou e o que precisava melhorar e nos revezamos entre nossas outras demandas e a produção dos materiais extras da cobertura: o vídeo que saiu no domingo (26) e o texto que foi publicado na terça-feira (28).  Como não existe parâmetro de cobertura jornalística sobre as quadrilhas juninas na nossa região, nos sentimos muito livres para aprender fazendo e para testar ideias. Inclusive, para algo pouco usual no jornalismo que é escrever em primeira pessoa.  

Para nós, falar sobre as quadrilhas juninas é a realização de um sonho antigo. Explico: Desde a retomada do Assobiar que queremos produzir um material jornalístico sobre a temática. A ideia surgiu de uma inquietação minha: em 2016, escrevi uma reportagem sobre o espetáculo da Matutos do Rei a respeito da comunidade de Piquiá de Baixo.

Na ocasião, tive a oportunidade de acompanhar boa parte do processo até a apresentação no Arraiá da Mira. Na hora de escrever me dei conta de que não havia nada sobre o histórico da quadrilha e que isso não ocorria só com a Matutos. 

Troquei muitas ideias com a Daniela, que na época trabalhava na redação de um jornal, mas não conseguimos produzir o material que tínhamos pensado: contar as histórias dos brincantes e o trabalho social que as quadrilhas realizam – ainda que de forma indireta – com as pessoas LGBTQ+. 

Mantive o sonho aceso e no início de 2022, quando fomos contempladas em um edital e retomamos os trabalhos do Assobiar, sugeri fazer um especial sobre as quadrilhas juninas. Nossa mentora, a jornalista Sylvia Colombo, adorou a ideia e ficou fascinada pelo tema. Entretanto, notamos a necessidade de apurar mais, estudar sobre o formato podcast e agregar mais pessoas ao nosso trabalho e tivemos de adiar o lançamento do material. 

Desde então, ao longo dos últimos nove meses temos gestado não apenas o podcast, mas outros materiais sobre essa manifestação cultural que envolve tantas pessoas e movimenta tantos corações. Pensamos que seria importante participar das festas de lançamento de tema. A Daniela me pediu para entrar em contato com as juninas e perguntar se o Assobiar poderia fazer a cobertura. Talvez, de início elas nem tenham entendido direito como seria esse trabalho, mas toparam e receberam bem a nossa proposta. 

Sempre me surpreendo com a capacidade de inovação das quadrilhas juninas, o cuidado com os detalhes e o trabalho de comunicação que elas realizam. Todos os anos, conseguem manter o público e os quadrilheiros empolgados pelos espetáculos. Sabem tirar bom proveito das redes sociais. Conseguem manter o suspense sobre os temas, cenários e vestimentas, enquanto se preparam para as apresentações.  Algumas vezes, investem no humor e no carisma, como o vídeo do brincante da Flor de Mandacaru que apresenta as atrações musicais e chama o pessoal para comprar os convites da festa de lançamento. E não, não é só uma dança, as quadrilhas juninas estilizadas tem certa magia!

Agora, a Daniela conta o que rolou nos bastidores da festa de lançamento do tema 2023 da Flor de Mandacaru:

“Na bruma leve das paixões que vem de dentro”… foi assim que me senti ao chegar ao local da festa, naquele 08 de abril, noite de Sábado de Aleluia. Parecia que já estávamos no mês de junho, pois a decoração conduziu a minha memória às festas juninas. A ornamentação contava com objetos e tecidos que relembrava os temas dos espetáculos de sucesso da Flor de Mandacaru: Meu sobrenome é babaçu (2015); Pipas nas asas do recomeço (2016); O Divino sou eu (2019); Uma alma velha habita em mim (2020) e Marias (2022).

Romário Campos, diretor de projetos e secretário da Junina Flor de Mandacaru, apresentou cada cantinho e explicou que o responsável pela decoração da festa foi o João Filho conhecido como Nego, que é diretor da produção. Havia elementos como pipas, fitas,  algumas releituras dos espetáculos e no teto, uma idealização de Aos vivos e as flores (2017). 

A ornamentação era colorida, vívida e cheia de simbologias. No salão principal, o telão de led serviu de suporte para as apresentações musicais e vídeos sobre a trajetória da Flor de Mandacaru e para a divulgação do tema. No teto do salão, varais de bandeirolas coloridas que costumamos ver apenas nos arraiás em junho. 

Havia mesas reservadas com cadeiras e barris de ferro de 200 litros que serviam como apoio às bebidas das demais pessoas da festa, estavam cobertos com panos amarelos dourados. A própria ornamentação da festa servia como espaço para fotos instagramáveis. Ao lado do salão, mesas menores de madeira com cadeiras e pneus customizados em forma de puff, estavam dispostas para os convidados ficarem à vontade.

Cheguei mais cedo, pois queria conversar com as pessoas que estavam trabalhando na festa. Margaret da Silva Marques, que vendia caldos de macaxeira (mandioca) nos sabores de camarão, carne seca e frango, é uma das fundadoras da Junina Flor de Mandacaru e mãe de um quadrilheiro da Flor.

“Eu sou uma das fundadoras. Era eu, a Francisca que era mãe do Gustavo…nós estamos desde o começo. Era um grupo de meninos da igreja, que formavam essa quadrilha e começaram a se juntar. Começaram copiando outra quadrilha e depois começamos a vender e acompanhar a quadrilha. Vendíamos bolo, chá de burro [mingau de milho]. Começamos a apoiar eles e aí foi crescendo. Uma das mães já até faleceu, que é a William. Aí entrou o Beto [o marcador – que conta toda a história]. Aí eu fiz o primeiro papel de quebradeira de coco.”

A minha conversa com a dona Margaret seguiu por uns 12 minutos. Ela me contou que o seu maior desejo é que a Flor ganhe o Nordestão de Quadrilhas Juninas, uma competição que escolhe a melhor Quadrilha Junina Estilizada entre os nove estados nordestinos e que geralmente ocorre nos estados de Pernambuco e Ceará.

É interessante notar como as famílias se envolvem na quadrilha. Brincantes e seus familiares participam ativamente da divulgação e organização: fazem pedágios, soltam suas criatividades em vídeos reels para suas redes sociais, divulgam nas rádios e TVs e nos stories de cada um/a dos/as brincantes e, claro, trabalham durante a festa.

Não havia aquela aura de segredo sobre o tema 2023 da Junina. Os/as quadrilheiros/as pra quem pedi palpite foram muito certeiros/as. Fiquei com a sensação de que já tinham “sacado” a temática do espetáculo e estavam na festa para comprovar o tema , se divertirem e se confraternizarem entre si.  O que incluiu descontração, muito forró e fazer folia ao lado de brincantes de outras quadrilhas juninas. 

A apresentação da festa ficou por conta da Tamara Muniz, rainha da Flor de Mandacaru. Suas falas foram traduzidas para a língua de sinais, por uma intérprete de libras que estava ao seu lado no palco. Tamara leu os temas dos espetáculos de sucesso da Flor e os brincantes aplaudiram e aclamaram as suas palavras. Em seguida, ela anunciou o novo patrocinador da quadrilha. 

As atrações musicais iniciaram com a dupla Adois, formada por um casal, cantando e tocando músicas Pop nacional e internacional e MPB. Já perto da meia noite, o DJ Faustino e suas bailarinas também se apresentaram. Entre uma apresentação musical e outra, conheci o Glauber Sousa, diretor geral, que começou como brincante e atualmente faz parte da diretoria. Ele teve uma participação importante durante o lançamento, além de anunciar o tema do espetáculo 2023, apresentou o novo marcador da quadrilha: Lauênder de França. 

Em uma quadrilha junina o marcador tem a importante função de dar o comando das coreografias durante o espetáculo, além de motivar e impulsionar os componentes antes da apresentação. “Para mim é uma honra poder contar essa história”, disse Lauênder após ser ovacionado pelos brincantes da Junina Flor de Mandacaru quando o chamaram ao palco. Foi eletrizante. Esse momento reforçou em mim o que senti desde quando entrei na festa e ao conversar com os primeiros brincantes: a Flor é uma grande família, movida pela mesma paixão de dançar e se apresentar durante o período de São João [sinônimo de festas juninas e arraiás]. 

A coordenação subiu ao palco e soltaram o vídeo de apresentação do tema: “Bumba – Amor e Liberdade”. Depois, é claro, só festa. Houve a quebra de pelo menos dois comportamentos vivenciados no período junino e que estão ligados a grandes dilemas no São João: Torcer para alguma quadrilha estilizada e ter uma certa rivalidade saudável e respeitosa com as outras juninas durante as competições; e, os coreógrafos levam poucos elementos coreográficos das quadrilhas juninas tradicionais (dançadas na rua) para o tablado. 

O que rolou foi o seguinte: rivalidade zero. Representantes de outras quadrilhas juninas foram prestigiar o lançamento do tema da Flor de Mandacaru, conversaram, riram e dançaram juntos. Marcaram presença membros da Arrasta Pé [de Imperatriz], Xodó Junino [de Imperatriz], Flor do Ribeirão [de Governador Edison Lobão] e Matutos do Rei [de Açailândia]. Houve até coreografias de quadrilha junina tradicional, com todos dançando juntos ao som da Banda Forró de Elite. Foi um verdadeiro arraiá fora de época, sem competições e sem rivalidade e lindo de se ver. Agora é aguardar a próxima cobertura: a festa de lançamento da Junina Arrasta Pé, de Imperatriz.    

Idayane Ferreira e Daniela Souza

redação

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