Junina Arrasta Pé, de Imperatriz (MA), traz como tema 2023 “Apuã – A Serra Pelada”

Fechando o ciclo de cobertura dos lançamentos de temas de quadrilhas juninas, o Assobiar esteve no baile da Junina Arrasta Pé, que ocorreu na noite de 06 de maio, no Colonial Eventos, em Imperatriz (MA). Neste ano, o espetáculo da junina imperatrizense é sobre a Serra Pelada, a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, localizada no estado do Pará.

Entre março e maio de 2023, nos propomos a contar sobre os bastidores das festas de lançamento dos temas juninos, mas a verdade é que a temática “bastidores” já está no nosso radar há quase 1 ano. Desde junho de 2022 que temos apurado o que acontece por detrás do tablado, antes e depois das apresentações das quadrilhas juninas estilizadas em eventos como o Arraiá da Mira, maior competição entre juninas da nossa região. 

Esse trabalho todo de levantamento de informações, entrevistas e muito estudo vai se tornar nosso primeiro podcast narrativo, com previsão de lançamento ainda para este mês de maio. Nele contamos o que são as quadrilhas juninas estilizadas, como são escolhidos os temas, quem são os/as brincantes e como a pandemia impactou as quadrilhas e os/as quadrilheiros/as. 

Recorrendo ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, encontrei os seguintes significados dado à palavra bastidor: 

bas·ti·dor |ô| – (bastir + -dor): substantivo masculino. 1. Estrutura em que se estica e prende a tela de um quadro. 2. [Costura]  Aparelho em que se prende e estica o tecido que se quer bordar. 3. [Teatro]  Armação em que tendem as decorações laterais do palco. 4. [Informática]  Estrutura ou armário, geralmente com medidas padronizadas, destinado a receber equipamento informático e de telecomunicações de forma a  otimizar o espaço e a facilitar o acesso.

bastidores – substantivo masculino plural. 5. [Teatro]  Espaço à volta do palco que não é visto pelo público. 6. [Figurado]  Conjunto de coisas íntimas, ocultas ou secretas.

Achei incrível que bastidor/es vai de costura a teatro (passando até pela informática!) e seu sentido figurado tem a ver com intimidade e segredo. Quando se trata das quadrilhas juninas estilizadas, a maior parte das cenas não é visível ao olhar do público, são apenas 20, 25 minutos de apresentação – antes, porém, foram meses de ensaios, eventos para cobrir os gastos, rifas, busca por patrocinadores, festa de lançamento do tema e até uma prévia, o chamado pré-junino. 

Os espetáculos são sempre muito bonitos e glamourosos, mas o que nos interessou mesmo foi entender o caminho das pedras entre os ensaios e as apresentações e contar histórias de quem faz dos espetáculos juninos estilizados um verdadeiro fenômeno cultural apreciado e querido não só no Maranhão.

Me despeço das festas de lançamento de tema agradecendo às quadrilhas juninas pela oportunidade que deram ao Assobiar. Convido também vocês a continuarem nos acompanhando, ainda vem muito material sobre as juninas estilizadas pela frente. Além disso, em 2023 vamos cobrir as apresentações das quadrilhas no Arraiá da Mira. Nos aguardem!

Deixo vocês com o relato da Daniela Souza sobre o baile da Junina Arrasta Pé, de Imperatriz (MA):

O baile estava previsto para iniciar às 21h e faltava 10 minutos para esse horário quando cheguei. O convite orientava que os/as convidados/as fossem de roupas esporte fino e social, algo que ficou destacado também no local do evento: um salão enorme, com lustres e luminárias, espelhos e mobiliário chique e delicado espalhados por todo o espaço. 

Um rapaz, que fazia parte da coordenação, me conduziu até a mesa reservada. “Fique à vontade e divirta-se”, disse ele sorrindo. Agradeci e fiquei admirando o espaço da festa. Muitos pensamentos passaram na minha mente naquela noite, um deles foi: esta é a primeira vez que uma junina realiza um baile como festa de lançamento do tema do espetáculo 2023. Para mim isso significou a valorização de tamanha manifestação cultural em Imperatriz. 

Além dos lustres e luminárias que brilharam durante toda a noite, haviam telões de LED no hall de entrada e um banner de mais de 2 metros conduzia a imaginação dos convidados ao universo da Arrasta Pé. Nos telões passavam trechos do tema do espetáculo. Já no salão, de frente para o palco, um fotógrafo fazia vários clicks do casal de noivos da junina. 

Eles estavam lindíssimos: a Bruna Viveiros – segundo ano como noiva da Arrasta Pé – estava com um coque, anéis discretos, brincos longos em formato de cascata, cordão simples em volta do pescoço e uma bolsa de mão pequena e redonda coberta de pérolas e cristais. Ela usava um vestido branco do tipo ombro a ombro, com uma fenda até o quadril, além de uma maquiagem delicada mas brilhante. O noivo da junina – Mayke Bruno – usava uma calça social, camiseta branca e um paletó. Simpáticos, os noivos foram muito requisitados pelos convidados para fotografias. 

A Bruna estava muito feliz e conversou comigo bem no início da festa. Para a minha surpresa, ela e seu marido da vida real, sentaram à mesma mesa em que eu estava. Mayke Bruno também. Conversamos um pouco, mas eu tinha a missão de pegar mais informações sobre a temática do espetáculo deste ano. 

A maioria dos convidados chegou por volta das 23h. Próximo ao momento em que é anunciado o tema. Marcaram presença no evento patrocinadores, deputados e colegas da imprensa imperatrizense, para os quais haviam mesas reservadas. Estavam presentes também brincantes de outras juninas, como as açailandenses Junina Renascer e Matutos do Rei, além da Xodó Junino, de Imperatriz. 

O espaço do evento era climatizado e a essas horas os convidados sentiam um pouco de frio. Sorrisos, abraços, conversa boa, comida e bebida à vontade faziam a alegria dos presentes e aqueciam o clima da festa. Foi possível conhecer não só os brincantes atuais, mas os 25 anos da Arrasta Pé em Imperatriz, numa exposição de figurinos dos principais espetáculos de anos anteriores. Expuseram ainda as camisetas de todos os anos em que a junina dançou e em uma das mesas o público podia apreciar os troféus já conquistados. 

Próximo ao centro do salão da festa fica o palco onde há mais três telões de LED: um no centro e os outros dois no lado esquerdo e direito. Neles passam cenas do tema do espetáculo de 2023. Então já fico sabendo que a temática tem a ver com garimpo. Numa conversa paralela, percebo que o tema do espetáculo deste ano não é segredo entre os brincantes. O grande segredo aqui era a arte da camiseta, como seria o enredo dessa história e qual o nome do espetáculo.  

Mayke Bruno me concede uma entrevista. Pergunto como a equipe chegou ao tema. “Esse espetáculo foi pensado para trabalhar em 2020, mas por causa da pandemia e diante de tudo que aconteceu, o tema foi colocado na geladeira. A gente achou que podia trabalhar no São João de uma forma diferente, deixamos em stand by e trabalhamos ‘Toda Tua’ que foi o espetáculo do ano passado”. 

O noivo da junina pontua ainda que a diretoria acreditava muito na força desse tema. “Com a volta da normalidade dos arraiais e das festas juninas, a gente retorna com o tema que íamos trabalhar em 2020. Agora é uma ótima oportunidade!”, afirma. 

O brincante Bruno Catanhede deu mais detalhes dos preparativos e contou suas expectativas.

“Eu fiquei muito feliz de saber que o Victor Sabbag, que é um dos nossos diretores, trouxe um tema muito forte pra gente trabalhar neste ano. Os brincantes não sabem tudo, mas a gente já vem estudando o tema do espetáculo. Os personagens estão cada vez mais vivos e está sendo muito legal a produção do que a gente tem construído durante esse tempo e que vai seguir até o dia da gente se apresentar”. 

Sobre o tema do espetáculo, Bruno aproveita para ressaltar mais sobre os bastidores.

“A gente está muito feliz de saber que estamos contando uma história recheada de cultura e tem coisas que, cada um que está dentro da cidade ou próximo do estado, conhece ou tem alguma ligação com esse tema. Quando a gente for se apresentar fiquem ligados como vai ser esse tema, porque cada um tem um pouco dentro de si, uma relação com o tema, uma pequena história, ou um parente que já passou ou passa coisas que vamos retratar”. 

Chega meia noite, os convidados já estão bem aquecidos com os encontros e vão para próximo do palco. Laédson Britto, marcador da quadrilha, e a intérprete de Libras iniciam a apresentação agradecendo aos presentes e à equipe de patrocinadores. Em seguida, eles avisam a plateia da apresentação de um espetáculo teatral que conta o tema ao público. 

As personagens são duas mulheres: uma mulher adulta, dona de casa e uma jovem. Elas iniciam um diálogo explicando que alguns familiares foram embora para o Pará trabalhar no garimpo de Serra Pelada [antigo garimpo localizado no estado do Pará]. O curioso dessa apresentação é que no meio da prosa, elas citam ritmos musicais que envolvem os estados do norte e do nordeste. A cada ritmo citado entram brincantes que dançam aquele ritmo: carimbó, forró, tecnobrega e lambada. 

Dentre os bailarinos estavam a Rainha G que dançou o carimbó e o casal de noivos da junina Bruna Viveiros e Mayke Bruno, que encerraram o clima festivo do teatro com a lambada. Em seguida foi apresentado o vídeo sobre a temática: ‘Apuã – A Serra Pelada’. Laédson volta a frisar o tema e anima a plateia para receber duas pessoas da coordenação vestidas com a camiseta do espetáculo 2023. 

Este ano, o espetáculo da Junina Arrasta Pé contará com duas noivas. Devido a uma lesão na coluna, a noiva Bruna Viveiros precisou reduzir a carga da dança. O interessante é que o anúncio de que em 2023 seriam duas e não uma noiva só pegou de surpresa a todos, inclusive a brincante Eva Lis que foi escolhida para dividir a função com a Bruna. Ela recebeu o convite no palco, durante o baile de lançamento. 

Foi realmente uma noite memorável. A Arrasta Pé vai levar aos tablados, não só as histórias dos trabalhadores do garimpo e sua relação com o ouro, mas a cultura e as lendas que rondam essa atividade. Imaginei a Geração 2000 conhecendo as inúmeras histórias por trás da Apuã (montanha, em tupi guarani) que devido a exploração de ouro se tornou a Serra Pelada.

Idayane Ferreira e Daniela Souza

redação

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