Em determinado momento da construção da minha carreira profissional, precisei aprender lidar com questões relacionadas à saúde mental, algo que não recebia a devida atenção – uma realidade ainda presente em muitos contextos profissionais. Isso me levou a refletir: até que ponto conseguimos identificar abusos psicológicos no ambiente de trabalho?

Por muitos anos, absorvi comportamentos e atitudes de superiores que, apontando o dedo na minha cara, diziam em tom ríspido: “Você não sabe de nada!”  ou ‘’você não merece receber pagamento’’ . Naquele tempo, eu naturalizava e aceitava essas situações, acreditando que eles estavam sempre certos.

Com a promulgação da Lei nº 14.831/2024, que entra em vigor em 26 de maio de 2025, torna-se obrigatório promover ambientes de trabalho que priorizem a saúde mental dos colaboradores, reconhecendo que o bem-estar é essencial para a produtividade e retenção de talentos. Como destacou a Organização Mundial da Saúde (OMS), “a saúde mental é um estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com o estresse normal da vida, trabalhar produtivamente e contribuir para sua comunidade.” 

Com essa atualização na Norma Regulamentora -1 (NR-1), é importante lembrar que, até poucos anos atrás, a saúde mental no ambiente de trabalho era amplamente negligenciada. Muitas pessoas adoeceram em ambientes tóxicos, outras precisaram se afastar, desenvolvendo transtornos que poderiam ter sido evitados com uma gestão mais humana e acolhedora.

Lembro que, em 2019, o dono da empresa onde eu trabalhava me disse algo que me marcou profundamente: ele comentou que o pior dia para ele era aquele em que precisava pagar os funcionários. Essa visão revela uma relação desgastada entre líderes e suas equipes, onde os colaboradores são vistos apenas como custos, e não como pessoas que contribuem para o crescimento e sucesso do negócio. Esse tipo de postura afasta a empatia e desvaloriza os profissionais, criando um ambiente hostil que pode impactar diretamente a saúde mental de todos.

Nesse contexto, atuar preventivamente para cuidar da saúde mental dos colaboradores é essencial para reduzir o número de afastamentos e promover o bem-estar no ambiente de trabalho. Iniciativas como palestras, momentos de autocuidado e rodas de conversa são exemplos de ações que podem fazer a diferença. Além de fortalecer os vínculos internos, essas práticas ajudam a criar uma cultura organizacional mais acolhedora, onde os profissionais se sentem valorizados, motivados e mais engajados com os objetivos da empresa.

Mais sobre NR-1 com informações do site Portal da Câmara dos Deputados

A Lei nº 14.831/2024, que altera a NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), traz importantes mudanças para as empresas em relação à saúde mental dos trabalhadores. A legislação exige que as empresas implementem ações para prevenir e tratar problemas de saúde mental, incluindo a inclusão de riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). 

Principais Mudanças:

• Inclusão de Riscos Psicossociais no PGR: A NR-1, atualizada, obriga as empresas a identificarem, avaliar e gerenciar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho, como estresse, sobrecarga e outros fatores que afetam a saúde mental. 
• Programa de Saúde Mental: A lei incentiva a criação e implementação de programas de saúde mental nas empresas, com ações de prevenção, tratamento e apoio aos colaboradores. 
• Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental: O governo federal institui o “Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental”, que reconhece as empresas que adotam práticas de promoção da saúde mental e do bem-estar de seus colaboradores. 
• Proteção e Inclusão: A legislação reforça a proteção contra discriminação para trabalhadores com transtornos mentais, promovendo um ambiente inclusivo e livre de estigma. 
• Implicações para as Empresas: As empresas que não cumprirem as exigências da lei podem ser penalizadas com multas e outras sanções.