A educação é essencial para o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos, mas muitas vezes é vista como algo voltado exclusivamente para os mais jovens. Rompendo com essa perspectiva, a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) criou o programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), uma iniciativa de extensão vinculada à Pró-Reitoria de Extensão e Assistência Estudantil (PROEXAE). O programa oferece cursos não regulares voltados à integração social e educacional de pessoas idosas, com o objetivo de promover a qualidade de vida e o aprendizado contínuo, incentivando uma participação mais ativa na sociedade.
Desde sua primeira edição, em 2019, a UATI tem sido um grande sucesso. Naquela ocasião, 27 alunos foram formados. Em 2024, mais uma turma celebrou sua formatura, incluindo a senhora Sônia Cristina, de 66 anos, moradora de Imperatriz. Sônia ingressou no programa após uma trajetória marcada pela falta de oportunidades educacionais na juventude. “Eu nunca tive a oportunidade de fazer uma faculdade, nem sequer havia entrado em uma. A UATI foi a chance que eu encontrei através de uma propaganda na TV, e lá eu me encontrei”, relata Sônia.
Além do estímulo intelectual, o programa também proporciona uma significativa melhora na qualidade de vida dos idosos. As aulas geram impactos positivos no bem-estar emocional e social dos participantes. “Eu percebi muita mudança na minha rotina e na minha vida porque sou muito ansiosa e sentia que faltava algo. Eu só fazia os serviços de casa, e isso não era suficiente para mim. Quando entrei na UATI, a mudança aconteceu: minha mente se renovou e meu bem-estar melhorou”, conta Sônia.
Além de promover o aprendizado e melhorar o bem-estar dos participantes, a UATI também se destaca por proporcionar um ambiente acolhedor e repleto de interação social. Sônia Cristina, compartilha sua experiência sobre a convivência entre os colegas e a equipe do programa:
“Olha, a nossa interação entre os alunos foi maravilhosa. Eu conheci muitas pessoas, porque nós éramos 44 alunos. Então, era assim um companheirismo, um cuidava do outro, um levava lanche para o outro. Era aquela harmonia, e todas as pessoas humildes. Os professores, a gente nem se fala, tratavam todos os alunos muito bem. Onde encontrava era com aquele sorriso no rosto. As pessoas que trabalham também na UEMASUL, muito bacana mesmo.”
A UATI também carrega como princípio fundamental a perspectiva de inclusão e democratização dos espaços, evidenciando que o idoso tem lugar em qualquer ambiente sociocultural, inclusive na universidade. Sobre isso, o professor José Milton Lopes Pinheiro, pró-reitor de Extensão e Assistência Estudantil da UEMASUL destaca:
“A UATI é um programa cuja característica é a perspectiva da inclusão e da democratização dos espaços. A gente quer mostrar que o lugar do idoso é qualquer lugar, qualquer ambiente sociocultural. Por isso é tão importante mostrar que eles podem, sim, estar no ambiente universitário, cursando disciplinas, se desenvolvendo e mostrando que são sujeitos ativos, inclusive para o nosso desenvolvimento regional.”
Ele também reforça como o programa quebra preconceitos e amplia horizontes: “Trabalhamos algumas disciplinas voltadas ao retorno ao mercado de trabalho e à relevância de estar ativo, até quebrando os preconceitos de que os idosos não produzem mais ou não têm capacidade de aprender. Ao estarem na UATI, eles se percebem como sujeitos ativos e agentes do conhecimento, levando habilidades e esse sentimento de pertença para outros espaços, inclusive no trabalho.”
A UATI não se limita ao ensino acadêmico, mas também se expande para áreas essenciais como saúde mental, saúde física e saúde alimentar. Diversos projetos do curso de Medicina tiveram uma grande ênfase nesses aspectos, com destaque para o trabalho de psicólogos, que abordaram questões psíquicas.
O Pró-reitor de Extensão e Assistência Estudantil, José Milton, explica a importância dessa abordagem: “A maioria dos nossos projetos trabalhados na UATI diz respeito à saúde mental, saúde física, saúde alimentar. Tivemos muitos projetos do curso de medicina, e houve uma transformação significativa, desde as primeiras conversas com os idosos até as mais recentes. Eles relatam como essa transformação aconteceu.”
A superação e o desenvolvimento dos alunos refletem o poder do programa. O pró-reitor destaca que, apesar das diferenças, os idosos se ajudaram mutuamente, contribuindo para a construção de um ambiente de apoio e colaboração:
“Temos alunos que entraram analfabetos, outros com dificuldades de leitura e até idosos já graduados. Não houve obstáculo para o aprendizado, e todos romperam as barreiras. Até aqueles com maior dificuldade estão, por exemplo, trabalhando com inglês, cantando músicas em inglês, e participando de ações como o coral. Hoje, até os mais tímidos estão mais confiantes, conversam mais e interagem com todos.”
Com o programa UATI, a UEMASUL mostra que nunca é tarde para aprender e fazer parte de novos ambientes. A iniciativa transforma vidas, oferecendo aos idosos não só conhecimento, mas também novas amizades, bem-estar e a chance de voltar a sonhar. Ao incluir os idosos no ambiente universitário, o programa ajuda a quebrar preconceitos e mostra que todos têm valor e podem contribuir para a sociedade. É uma prova de que a educação pode mudar não só o presente de quem participa, mas também o futuro de toda a comunidade.
Texto e apuração: Alisson Coelho