
Neste mês de maio, preparamos um especial para o Dia das Mães. Levando ao pé da letra a máxima de que “todo dia é dia das mães”, contaremos três histórias de mulheres, mães de pessoas que integram a nossa equipe. A ideia surgiu durante o primeiro planejamento editorial do mês, proposta pela nossa estagiária de Jornalismo, Ana Maria Nascimento.
Abrimos a série com o perfil da mãe de Ana: uma mãe solo que enfrentou inúmeros desafios para criar três meninas. Os números mostram que essa realidade é comum. Segundo o IBGE, em 2022, 16,5 % dos lares brasileiros eram monoparentais; no Maranhão, o Censo 2010 apontou que 46,58 % das mulheres que se declaravam mães criavam os filhos sozinhas.
Assim, ao amplificar essas vozes mostramos as trajetórias, celebramos o Dia das Mães durante todo o mês — e destacamos a força de quem transforma desafios em afeto e resistência.
Hoje (17), é dia de contar a história da minha mãe: Maria Eusa, 60 anos. Uma mulher cuja força, muitas vezes, me faltam palavras para descrever. Com dignidade no trabalho e dedicação aos estudos, ela transformou a própria trajetória. Escolheu trilhar novos caminhos em busca de melhores condições de vida — e, com isso, revolucionou não só a sua história, mas também a da nossa família.
Minha mãe mede 1,60 m, tem cabelos lisos, corpo magro e pele preta. Adora vestidos, saias e blusas — sempre impecável, adequada a cada ocasião.
Fotos: Arquivo pessoal.
Quem a vê caminhando com passo firme e voz alta, segura, não imagina a história que a moldou. Professora do ensino fundamental, ela guia turmas de crianças de 7 a 9 anos, incluindo alunos com necessidades especiais. Reside em Açailândia atualmente, mas teve momentos da sua vida que viveu em Imperatriz-MA e Altamira-PA.
Mesmo aos 60 anos, divide seus dias entre o turno da manhã e o da tarde na escola.Casou‑se com meu pai, Dorval Ferreira, aos 21 anos; em abril deste ano, completaram 40 anos juntos. Eles tiveram 5 filhos e um neto e uma nora. Como os filhos são adultos, sempre comentamos que a herança que nos deram foi o trabalho digno e os estudos, pois todos concluíram ou prestes a concluir uma faculdade (o tão sonhado ensino superior). Meus pais, seguem trabalhando muito, exemplo vivo de dedicação e perseverança.
Sua trajetória foi marcada por desafios e responsabilidades desde muito cedo, mas ela nunca deixou de alimentar o desejo de “ser alguém” e de oferecer a uma futura família tudo o que não teve. Era essa esperança que a impulsionava a seguir, mesmo nos caminhos mais duros e no trabalho mais árduo. “Eu precisava seguir acreditando em um futuro melhor porque eu não queria aquela vida pra vocês”, diz ela.
Barra do Corda foi o ponto de partida. É de lá que vem a mulher cuja história é feita de lutas silenciosas e conquistas diárias. Filha da zona rural maranhense, aos quatro anos e meio, precisou deixar o colo da mãe para viver com a tia. Começava ali a vida de quem sempre foi lançada ao mundo antes da hora — mas nunca deixou que ele a engolisse.
A infância humilde foi marcada pelo trabalho precoce e pela ausência de oportunidades. Cresceu entre roçados, capinas e colheitas, inclusive de algodão. Mais tarde, já adolescente e adulta, multiplicou-se em funções para garantir o sustento e o mínimo de dignidade: foi doméstica, babá, manicure, vendedora de Avon, sacoleira, cozinheira de salgados, repositor de mercadorias, balconista de loja.

O estudo, sonho que parecia sempre distante, foi adiado por falta de condições aos 20 e poucos anos. Com os filhos pequenos, viu-se diante de uma rotina exaustiva, em que precisava escolher entre a comida na mesa e o tempo para si. Ainda assim, não desistiu. Formou-se em Pedagogia, eu, Daniela, tinha 15 anos quando ela se formou. Fui na sua formatura em Pedagogia. E, mesmo vendo a minha mãe ali desfilando no tapete de beca, eu achava que não teria como eu estudar. “Eu me formei, para aumentar meu salário e vocês terem a oportunidade de estudar também”, diz dona Eusa.
Se eu pudesse resumir a vida da minha mãe seria Fé, Esperança e Trabalho. A fé foi seu pilar nessa jornada da vida. Apresentou Jesus Cristo aos filhos como quem entrega um abrigo — e tem se doado de corpo e alma às causas da igreja. Ela diz que sonha em “Continuar se doando para as coisas de Deus. Cantar para os idosos, cozinhar, trabalhar em creches. Expressar o cuidado e o amor de Deus”.
Os momentos mais difíceis da vida dela vieram em sequência: perdeu o pai, a mãe e um de seus irmãos mais queridos em um curto intervalo de tempo. “Meus pais foram pais de verdade. Sempre me incentivaram a buscar uma vida melhor. Meu pai ainda chegou a ver meu álbum de formatura… anos depois, ele se foi”, relembra.
Também enfrentou a dor de acompanhar, por sete anos, a doença do primeiro neto. E carrega o trauma de um acidente doméstico: um choque elétrico que atingiu a ela e uma das filhas durante uma faxina. “Tudo isso deixou marcas profundas em mim.” Mas nunca permitiu que essas dores a definissem. Seguiu em frente — firme, alegre, batalhadora.
Como mãe, é amiga e protetora. Como mulher, é exemplo de fé, coragem e resiliência. Seu livro favorito poderia ser qualquer um de Augusto Cury. Seu personagem favorito? Aquela mãe que protege, ensina e nunca desiste. Hoje, sente-se realizada. Orgulha-se da família que construiu com o esposo. Tem filhos trabalhadores e segue firme na profissão que escolheu — a mesma que por tanto tempo lhe foi negada: a de professora.
Se tivesse voz nas políticas públicas, talvez seu título não fosse “A professora que não teve voz”, mas sim a educadora que fala por todas que foram silenciadas. Seu verdadeiro título, no entanto, é esse: a mulher que venceu todos os desafios.
Jornalista especializada em Assessoria de Comunicação Organizacional e Institucional. Já vivenciou experiências profissionais nas áreas de publicidade e propaganda, produção de documentários, radiojornalismo, assessoria política, repórter do site jornal Correio de Imperatriz e social mídia. Boa parte de suas experiências profissionais foram em assessorias de comunicação institucional de ONGs, com ativismo social voltado para a defesa de direitos humanos, justiça socioambiental e expansão da agroecologia na região do bico do Papagaio; esses trabalhos ocorreram nas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Augustinópolis (TO).