Adoro uma crônica de Paulo Mendes Campos em que – com base no livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll – ele dá orientações à interlocutora Maria da Graça, que acabara de completar “a avançada idade de 15 anos”. Embora seja de fato uma crônica excelente, não sei ao certo por que lembrei dela justamente agora. Talvez seja porque a última vez que a li foi na semana do meu aniversário, enquanto escrevia uma carta para uma amiga. Uma carta que, descubro, nunca enviarei, pois no fundo estou escrevendo para mim mesma. Tenho pouca prática em escrever cartas. As poucas que escrevi eram do tipo “cartas de amor”, ridículas, como devem ser “as cartas de amor, se há amor”, assim descritas pelo heterônimo de Fernando Pessoa, o Álvaro de Campos. “Para Maria da Graça” é o título da crônica, à maneira de remetentes/destinatários de bilhetinhos… “De: fulano de tal. Para: beltrano”. Muitas coisas me encantam neste texto: a estrutura, a escrita, as boas lições baseadas em um livro louco. Sempre que possível, acabo recomendando a alguém, sob o pretexto: “Leia! É, sem dúvida, uma das minhas crônicas favoritas”, como se meu gosto literário fosse parâmetro para algo. Uma vez emprestei um livro-reportagem sobre gentileza e leveza de viver. “Tenho certeza de que você vai adorar”, disse à minha amiga. Era um desses livros que considerei maravilhoso ao ponto de reler, mas ela não apenas detestou como me acusou de empurrar um livro de autoajuda, o que aliás detestava em dobro. Minha regra literária é ter um gosto relativamente amplo e acabar gostando de coisas muito específicas, como livro-reportagens e escrever cartas sem nenhuma orientação baseada em livro (assim espero). No fundo, não sabemos realmente sobre os outros (pessoas ou livros). Intuímos muito mais do que realmente sabemos, e pode haver uma diferença enorme entre o que pensamos sobre alguém e quem esse alguém realmente é. Penso que o mesmo vale para os livros. Às vezes, temos contato com a capa, gostamos do título, lemos o texto das orelhas, folheamos e o levamos para casa com a impressão de que fizemos um bom negócio. Mas não há garantias. É somente quando nos colocamos a ler que descobrimos que, olha só, pode ou não ser como imaginávamos. Isso exige esforço. Mas, pensando bem, tudo exige algum esforço: escrever uma carta, uma crônica ou tergiversar bobagens (como acabei de fazer neste texto). Tenho mais dúvidas que certezas na vida e se me permite a ousadia: adoro uma crônica do Paulo Mendes Campos e recomendo a leitura.
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