O isolamento social tem efeitos sobre o psiquismo humano, pois traz um enorme custo emocional para o sujeito. Dito isso, é possível se pensar sobre as possibilidades de implicações psíquicas após tantos dias de privação social?
Em tempos de pandemia, a ordem é ficar isolado, porém existem várias formas de se viver este período. Há pessoas que estão acompanhadas, outras sozinhas, algumas não podem sequer se isolar … cada caso é um caso. A pergunta que se faz é: se estar acompanhado evita a solidão? E mais ainda, estar sozinho significa estar solitário?
A solidão não é propriamente um conceito na obra de Freud e Lacan, no entanto, entendemos que há uma série de conceitos fundamentais que se articulam ao tema solidão e que podem contribuir nesta temática.
A solidão é singular de cada sujeito e se distingue pelas diversas modalidades de se estar no mundo e nada tem a ver com o que se considera as ideias atuais do “ser sem solidão”, do “ser popular”, do “ser independente e com elevada autoestima”, entre outras.
Segundo Freud, a pessoa isolada age de modo próprio, pois não está exposta ao efeito de sugestão de quando está em um grupo. Fascinada pela influência das multidões, o dito do outro adquire para ela efeito hipnótico.
Em um dos poucos momentos que Freud fala diretamente da solidão, ele afirma que as grandes decisões no domínio do pensamento e as descobertas que envolveriam a trabalho intelectual “só são possíveis ao indivíduo que trabalha em solidão” (Psicologia de grupo e análise do eu, 1921, pp. 94). Porém, neste ponto, trata-se de uma escolha do sujeito por estar só e pouco tem a ver com o imperativo social em que estamos vivendo nesta quarentena.
A solidão não é simples privação da ausência do outro, pois ela atualiza e renova as ausências e presenças que marcaram a vida do sujeito. O sentimento de solidão supõe que poderia haver uma presença onde algo se ausenta. Além disso, há a frustração que a ausência envolve, pois na solidão é angustiante a possibilidade de não contar com a presença do outro.
A solidão é um sofrimento humano fundamental do qual não se escapa. O estar só traz à tona a possibilidade de se confrontar com situações que não gostaríamos, a exemplo de suportar a nossa própria companhia e principalmente, olharmos os nossos próprios desejos de frente.
Diante desse impasse, do qual todos estamos submetidos, qual a sua invenção para lidar com a sua solidão?
Por Lília Maria Sampaio
Sou Lília Sampaio, psicóloga em Salvador, Bahia e uma psicanalista que gosta de histórias. Em minhas horas vagas, gosto de meus discos, livros, filmes, bichos, plantas, saidinhas com amigos e ficar em casa com minha família. Se você desejar fazer análise, faço atendimento presencial e online.