Ela me perguntou se eu tinha um sofá e desligou o telefone. Eu não tinha, tampouco entendi a pergunta naquele momento. Ela tinha essa mania, perguntava sem esperar resposta, a resposta de fato não era importante.
Entendi com o tempo e com a vivência que ela não queria respostas, afinal, ela queria aguçar aquele assunto dentro de nós, não sem intenção, tudo tinha uma intenção, mas não era intencional ser daquele jeito.
A pergunta ficou na minha mente por dias. Eu não tinha um sofá. O que era a figura de um sofá, qual a funcionalidade do objeto na minha vida, no meu cotidiano? Até que eu me vi comprando um sofá sem saber o porquê. No fundo
eu queria calar a pergunta dentro de mim. Sim, eu tenho um sofá!
Quando ela entrou e deu de cara com o sofá, os seus olhos se perderam, por alguns minutos eu quis perguntar – e aí, gostou? Era o que você esperava?
– Mas acima de tudo: por que perguntar sobre o sofá? Mas não perguntei.
Ela virou para mim e falou com um sorriso:
– Você sabe o quanto é difícil se mudar com um sofá?
Eu não pensei naquilo… ela sabia que eu não havia pensado.
Então, como se uma luz abruptamente viesse de encontro a minha mente, eu
entendi. Ela me falou, ainda, e com o olhar perdido:
– Só se compra um sofá quando já não se tem mais vontade de se mudar.
E depois de um breve suspiro…
– Ou quando você gosta tanto dos que te visitam a ponto de não lhes oferecer o
chão. Era isso, então completei:
– Ou para dormir na sala, quando fizer calor.