Enfim, dezembro! Chegar ao final de um ano tão intenso e caótico como foi o de 2023 também passa por rever o que andei (ou não) lendo. Diferente de anos anteriores, não fiz uma lista das minhas leituras, e lembrar de cabeça os nomes dos livros (ou pelo menos tentar) é um exercício e tanto, mas não é o foco da coluna de hoje.
Provavelmente, comprei menos livros em 2023, mas mantive meu Kindle atolado de e-books. Uma mania recorrente e antiga. Levei-o a muitos cantos: do dentista a viagens de avião e de ônibus. Isso ocorreu não apenas porque é possível carregar centenas (quiçá, milhares) de obras, mas também porque é mais leve e portátil do que a maioria dos livros que tenho na estante. Ou talvez seja porque nele posso aumentar ou diminuir a intensidade da luz e o tamanho das fontes. É também porque já amassei alguns livros, por não acomodá-los adequadamente na mochila, e no final das contas, aprendi a gostar de livros digitais. Talvez por isso, tenho a sensação de que li menos livros físicos em 2023.
Nos primeiros meses do ano, entre a necessidade gritante de ler os materiais para a dissertação de mestrado e a falta de ânimo, tentei me concentrar, em vão, em alguma obra literária. Iniciei vários livros, que foram postos novamente na estante após a leitura dos primeiros parágrafos. O cansaço mental impossibilitava-me de me concentrar e tirava o gosto por qualquer livro, inclusive e principalmente, para ler os artigos acadêmicos. Li muito do que precisava fazendo um esforço tremendo. Dias desses, estava relendo um artigo e não apenas o achei muito interessante, como também me admirou o fato de que agora me parecia mais inteligível do que na época em que o li para a pesquisa.
O cansaço perdurou por meses. Mesmo com a dissertação finalizada e defendida, precisei de um bom tempo para reconquistar o ritmo e o prazer da leitura. Depois que voltei a ler, tenho quase emendado uma leitura na outra e lido obras aleatórias e muito distintas entre si. Em um mesmo mês, li a autobiografia da Britney Spears (“A mulher em mim”, 2023) e “Laranja Mecânica” (1962), de Anthony Burgess, um clássico distópico sobre ultraviolência.
Foi um ano em que continuei trocando livros na feira da biblioteca municipal. Antes, tive que separar na estante obras que já li, uma tarefa quase mensal e feita com muito gosto. A feira me possibilitou trocar livros finos por calhamaços, topar com obras que sempre quis ler e estavam esgotadas, ou ter gratas surpresas ao conhecer novos autores. Uma ou outra vez, levei para a feira um livro já lido e que tinha sido resultado de uma troca na própria feira.
Este ano também conheci a vida e obra do Jorge Amado e de Zélia Gattai na moradia do casal em Salvador, Bahia. Foi uma experiência imersiva e mágica. Voltei para casa com uma vontade imensa de ler as obras dos dois autores e comecei por “Anarquistas, graças a Deus”, da Zélia. Uma leitura leve e divertida, que se juntou às escolhas aleatórias e diversas que fiz em 2023.
Enfim, dezembro! Acabei de finalizar “Memórias de um sargento de milícias” (1854), do escritor brasileiro Manuel Antônio de Almeida, que me fez soltar boas risadas. Emendei a leitura rápida de “A construção de mim mesma: Uma história de transição de gênero” (2021), da Letícia Lanz. Por fim, estou na metade de “Céu noturno crivado de balas” (2020), de Ocean Vuong, poeta, ensaísta e romancista vietnamita-americano.
Que ano caótico, meu Deus! Ainda restam uns 20 dias para 2024, e quem sabe quais leituras aleatórias me esperam até a “virada” do novo ano?