É fato, a solitude vem quando se entra em processo de autoconhecimento. As relações se transformam, ainda que persistam. Conversar já não é tão simples, ou melhor, encontrar alguém para conversar já não é tão simples. Sair já não é tão simples. Os lugares de antes já não agradam tanto. O tempo de tolerância neles é infinitamente mais curto. Faz parte.
Faz parte, mas não é um mar de rosas a todo tempo. Tem momentos que a pessoa só deseja a alienação, a proteção do desconhecer, a anestesia da não percepção.
Quanto mais a pessoa se conhece, mais seletiva fica. A seleção não diz respeito a juízo de valor ou ao fortuito maniqueísmo de bem e mal, bom e ruim. É apenas uma questão de autorrespeito, um troço que a nossa forma educacional subverte e transforma numa ideia, também equivocada, de egoísmo.
Não é fácil não mais se sentir confortável nos encontros de família. Não é fácil passear mentalmente pela já reduzida lista de amigos e conhecidos e perceber que eles não conseguirão compreender a demanda que você traz. Nestas horas, há de se ter atenção para não ser envolvido pela solidão. Muita atenção, inclusive!
Não sou eu a primeira, e nem serei a última, a fazer e sentir esse caminho. Cada ser tem seu tempo, suas escolhas, suas programações individuais. Não há o certo e o errado. Acredito muito que estamos todos, à sua própria maneira, buscando o bem estar e o equilíbrio. Hoje, o meu lugar de equilíbrio me faz desejar coisas e estados bem diferentes das pessoas que amo.
Por sorte, a cada dia que passa também descubro o amor por mim mesma, a alegria de estar comigo, de acolher as minhas demandas, de não desqualificar as minhas individualidades. E assim segue. E enquanto as descobertas vão chegando por aqui, fico na certeza de que me conecto com outros tantos que também fazem o mover interno.
Aprender a caminhar sozinho é o caminho do reencontro, consigo e com o todo.
Mulher preta, baiana do interior, mas acolhida pela capital (Salvador). Jornalista de formação, fui pescada para a cobertura política muito cedo, e aí estou há uma década. Na vida, um ser que deseja experimentar a multiplicidade do Universo e dos universos (humanos). Um coração pisciano que deseja desbravar o desconhecido. Amo os clichês e a forma como se mostram imperativos na vida cotidiana. Simples e grandiosos, acredito que carregam os segredos de um viver “ser”. Como Belchior, “não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja”. E talvez seja este o meu principal desafio. Neste espaço, te convido para refletirmos sobre o cotidiano e como a vida prática nos atravessa.