Recentemente, tive a oportunidade de participar dos Diálogos Amazônicos, um evento de projeção global que antecedeu a Cúpula da Amazônia em Belém do Pará, realizado entre os dias 4 e 6 de agosto. Nesse evento, grupos vitais como povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, mulheres e a comunidade LGBTQIA+, junto a outras minorias marginalizadas, foram representados e puderam compartilhar suas vozes e perspectivas.
No entanto, mesmo diante dessa celebração da diversidade e da busca por justiça ambiental, um vácuo preocupante se fez notar: a deliberada omissão da relação entre o consumo de carne e a devastação ambiental. Em um momento crucial para a vida na Amazônia, a decisão de não abordar as implicações ambientais do consumo de carne revelou-se estratégica, embora questionável. Especialmente quando consideramos que esse consumo é um dos principais impulsionadores do desmatamento na região.
A indústria pecuária, que exige extensas áreas de terra para pastagem e produção de ração animal, continua a despojar nossa floresta para criar gado, perpetuando um ciclo tóxico de devastação. A Cúpula foi um indicativo alarmante de como o Estado se submeteu e sempre vai se submeter aos interesses dos grandes latifundiários, mesmo que isso signifique a degradação de nossas terras e recursos hídricos para alimentar o abate de animais cuja maior parte da carne sequer é consumida aqui, sendo exportada para outros países.
O evento em questão, com mais de 20 espaços de debate apenas no Hangar de Convenções e Feiras da Amazônia – sem mencionar outras mobilizações em locais como a Universidade Federal do Pará (UFPA) –, deixou de abordar a devastação resultante do consumo desenfreado de carne na Amazônia e seu impacto nas vidas das comunidades que aqui habitam. A nossa hesitação em reconhecer a conexão intrínseca entre nossos hábitos alimentares e a destruição do meio ambiente testemunha uma negação preocupante.
A Cúpula da Amazônia, cujo foco é explorar as raízes da crise climática na Pan-Amazônia, enfrenta um paradoxo ao evitar a discussão sobre o maior fator contribuinte para o desmatamento no Brasil: a indústria da carne. Enquanto lutamos e perdemos a vida para preservar a cultura e a natureza da Amazônia, é igualmente crucial confrontar o fato de que o que colocamos em nossos pratos reverbera em todo o planeta. A forma como nos alimentamos não pode mais ser negligenciada.
Quando discutimos questões ambientais e igualdade, devemos compreender que nossas escolhas alimentares refletem nossas crenças mais profundas. Se genuinamente desejamos uma Amazônia protegida, devemos elevar o veganismo político ao centro das discussões, proporcionando-lhe o espaço que merece na agenda. Isso deve ser feito em conjunto com outras demandas urgentes das comunidades amazônicas, visto que permanecer em silêncio sobre esse tema é inaceitável e contraproducente.