Não me lembro da primeira vez em que me deparei com a palavra “procrastinação”, embora desde cedo já entendesse seu significado prático. Segundo o “Dicio – Dicionário Online de Português”, o verbo “procrastinar” deriva do latim “procrastinare” e significa adiar, protelar. A procrastinação é basicamente aplicar aquele ditado que diz: “Por que fazer hoje o que eu posso deixar para amanhã?” E procrastinador é o indivíduo que sente a dor por adiar a realização de algo ou o fazer de maneira lenta, preguiçosa ou morosa.
Ao pensar sobre procrastinação e livros, concluí que muitas das leituras adiadas indefinidamente não têm a ver com serem chatas ou obrigatórias, mas sim com a temática, a complexidade narrativa ou o simples fato de serem calhamaços de centenas de páginas. Em outras ocasiões, apenas não estou na sintonia emocional que algumas obras exigem.
De vez em quando, aventuro-me entre os livros que considero “impenetráveis”. Quero deixar de ser praticante da delicada arte de postergar uma leitura e inicio o livro. Consigo avançar duas ou três páginas e devolvo-o à minha estante – intimidada – mais um que se soma à pilha do “Para ler depois…”, uma espécie de limbo literário do meu eu futuro.
Trago aqui títulos de alguns livros que estão na minha lista, divididos por categorias:
Calhamaços e/ou complexidade narrativa/profundidade:
1 – “Grande Sertão Veredas”, João Guimarães Rosa
2 – “Um defeito de cor”, Ana Maria Gonçalves
3 – “Os diários de Sylvia Plath 1950 – 1962”
4 – “Frida”, Hayden Herrera
5 – “A queda do céu”, Davi Kopenawa e Bruce Albert
Livros complexos que sempre me exigem sintonia emocional:
1 – Qualquer um da Clarice Lispector
Aqueles que tratam de temáticas pesadas:
1 – “Baratas”, Sholastique Mukasonga
2 – “Abusado”, Caco Barcellos
Uma leitura adiada sempre cresce em apreciação. Quando consigo, enfim, vencer a barreira que me impeliu a procrastinar um livro, sinto um misto de alegria e espanto: “Por que eu demorei tanto para lê-lo?”. Mal posso esperar para me perder em suas páginas e enriquecer minha experiência literária. Enquanto isso não acontece, alguns livros vão permanecer por um tempo na pilha de “leitura futura”.