Certa vez encontrei na internet um texto que dizia as palavras exatas, com o tom de sabedoria pertinente, à passagem de aniversário de um (na época) amigo. O texto, que se chama O valioso tempo dos maduros, trata sobre o decurso dos anos, o amadurecimento e a constatação de que envelhecer deixa marcas no corpo, mas traz à alma o entendimento necessário.
Transcrevo aqui um pequeno trecho, selecionado minuciosamente para aquela ocasião.
Contei meus anos e descobri que terei
menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro […]
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa!
[…] quero viver ao lado
de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade; caminhar perto de
coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
Lindo, né? Li todo o texto, escolhi os trechos e na hora de citar eis que surge uma dúvida: quem é o autor? Abri vários sites e blogs, mas ninguém concordava sobre a autoria. Alguns atribuíam ao Mário de Andrade, outros ao Ricardo Gondim, ou ainda ao Rubens Alves. E até hoje, confesso, não sei exatamente quem escreveu.
Em tempos de internet e redes sociais em que as pessoas compartilham de tudo e, principalmente, transcrevem escritos como se fossem delas, ou citam trechos como se fossem de outrem, sem ao menos conferir a autoria, textos como esse se propagam com muita facilidade atribuídos, às vezes e erroneamente, a grandes autores da literatura.
Quer outros exemplos? Você provavelmente já leu o texto intitulado Você aprende ou Menestrel, supostamente escrito por William Shakespeare (poeta, dramaturgo e ator inglês). Talvez o título não lhe diga nada. O texto começa assim: “Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. ” […]. Pois bem, estudiosos de Shakespeare garantem que o texto não é dele. Outro texto na mesma situação é o Instantes, atribuído ao escritor argentino Jorge Luís Borges, que diz “se eu pudesse novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido. ”
Existe algo de muito negativo em espalhar textos errados ou sem a autoria, a começar pela desvalorização do escritor e da sua obra. Além disso, dependendo do tipo de reprodução pode haver a violação aos direitos autorais, como é o caso do plágio, que segundo o Código Penal Brasileiro é considerado crime (com pena de reclusão ou pagamento de multa). Assim sendo, após agradecer sua imensa paciência ao chegar até aqui, faço um duplo apelo: 1 – Me avise se souber quem é o verdadeiro autor de O valioso tempo dos maduros. 2 – Leia mais livros e compartilhe, de preferência, o que é de seu conhecimento.