O 'terror' escrito por mulheres

Sempre é bom escrever sobre o que leio. Acredito que posso incentivar outras pessoas a se aventurarem no terror, meu gênero favorito. O que me conquista, na maioria das vezes, é a criatividade, as reviravoltas e, claro, as críticas sociais presentes nessas histórias. Afinal, a literatura também serve para dizer algo ao leitor, para denunciar problemas e injustiças.

Temos escritoras fantásticas que fazem isso com maestria, nos levando a refletir sobre as mazelas do mundo. Não importa se são autoras do passado, como Mary Shelley e seu Frankenstein, Agatha Christie e seu astuto detetive Hercule Poirot, ou Patricia Highsmith com o talentoso Ripley. Também há surpresas contemporâneas, como C.J. Tudor, e, mais recentemente, descobri a sul-coreana Bora Chung e seu perturbador O Coelho Maldito (você pode ler uma amostra do conto dela no site da Amazon).

Fotos Sávio Souza

Todas essas mulheres incríveis, em suas narrativas, exploram o medo — um sentimento que elas entendem muito bem. Elas abordam temas como misoginia, violência, feminicídio, stalkers, a cultura redpill e até a depressão pós-parto. Infelizmente, há muito o que discutir no âmbito do terror feminino.

Recentemente, escolhi uma coletânea escrita exclusivamente por mulheres: “Mais Mortais que os Homens”. Um conto que merece destaque é “O Papel de Parede Amarelo”, que trata profundamente da saúde mental feminina. É uma história para aquela mulher que já passou por algo semelhante se sentir vista. A solidão e a deterioração da personagem principal a levam cada vez mais fundo em sua mente, até o encontro com uma criatura que habita a parede do quarto.

E não venham com xenofobia! As histórias de terror não se limitem às estadunidenses e britânicas. Já citei Bora Chung, da Coreia do Sul, mas procurem também as escritoras latino-americanas. A argentina Mariana Enríquez, com “Nossa parte de noite”, tem uma pegada lovecraftiana. Ilana Casoy escreve sobre crimes reais, oferecendo uma verdadeira aula sobre a mente de psicopatas. E até minha amiga Lenita Carneiro, com “Remanso do Horror” (livro que ainda pretendo resenhar).

Não posso deixar de mencionar Margaret Atwood e seu conto distópico “O Conto da Aia”. Tive verdadeiro pavor ao assistir à série e ver como os homens tentam controlar os corpos das mulheres — um terror que, infelizmente, ainda é muito real. E, claroShirley Jackson, com “A maldição da Casa da Colina”.

Eu poderia escrever páginas e páginas sobre elas. É um presente fazer aniversário um dia depois do Dia Internacional da Mulher.

Viva elas e viva o terror escrito por mulheres!

Sávio Souza

Sávio Cunha, um observador astuto do intricado mundo da arte, traz em sua essência uma paixão indomável pelas histórias de terror e suspense. Com uma mente inquieta e imaginativa, ele mergulha nas profundezas sombrias da psique humana, buscando desvendar os mistérios que habitam nas entrelinhas do medo e da tensão. Inspirado por ícones do gênero como Stephen King, H.P. Lovecraft, Raphael Montes e Rubens Francisco Lucchetti, Sávio tece narrativas que desafiam os limites do desconhecido. Em suas resenhas, ele não apenas entrelaça os fios do terror e do suspense, mas também explora os recantos mais obscuros da alma humana, revelando seus segredos mais sombrios e perturbadores.

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