O garimpeiro

Às vezes acontece do motorista por aplicativo fazer alguma corrida extra, entre os trabalhadores chamamos de CPF (Corrida Por Fora), e a história que vou contar agora foi especial, era um reencontro entre familiares após 35 anos de separação.  A passageira era minha mãe e claro que não cobrei dela.

Era 1h da manhã, quando o telefone tocou. Estávamos todos à espera do meu tio que tinha acabado de chegar em Imperatriz após 35 anos sem dar noticias. Em 1984, ele saiu do interior do Maranhão em busca de riquezas no garimpo, deixando pai, mãe e outros 10 irmãos, a maioria ainda bem jovem.

O caminho até a rodoviária parecia maior naquela madrugada, a ansiedade tomava conta da minha mãe, foram muitos anos sem uma conversa, sem um abraço de irmão mais velho, mas graças a internet essa distância foi interrompida.

Ele foi encontrado por uma sobrinha, em uma rede social que outra pessoa tinha feito pra ele, a partir dai foi uma saga entrar em contato com o homem, porque era raro ele se conectar a internet. Pode parecer mentira, mas para ele usar um wi-fi ou 2g precisava percorrer 40 quilômetros de onde morava até a cidade mais próxima. Somente com a ajuda de amigos dele lá do garimpo que foi possível um número de telefone e enfim uma ligação.

Chegamos ao terminal rodoviário, de longe avistamos o Antônio Noleto, não tinha dúvidas que era ele mesmo, os traços, a voz, a altura, tudo parecido com meus outros tios. Depois de abraços e choro de emoção fomos para casa.

Imperatriz ainda era a metade do caminho até o velho garimpeiro encontrar o pai e os outros irmãos, para isso acontecer ainda iria viajar mais 540 km. Apesar de estar tão próximo de casa, tinha algo que o deixava triste, o fato de não poder mais sentir o calor de mãe, pois minha avó faleceu há alguns anos. 

Chegando na primeira parada do viajante, foi muita conversa e gargalhadas de encher o coração de amor!

Se eu que sou apenas uma jornalista que dirige por app tenho muitas histórias para contar, imagine ele que passou mais de 30 anos convivendo com pessoas de todo o mundo, na briga por ouro e alimentando o sonho de “bamburrar” no garimpo.

No dia seguinte pegou a condução e seguiu rumo à sua terra natal.

Juliana de Sá

Jornalista por formação e curiosa por vocação! Nas horas vagas dirijo por aplicativo nas ruas de Imperatriz, onde ouço todo tipo de história e as transformo em texto. Às histórias são reais com uma leve liberdade poética, se você gosta de imaginar venha comigo nessa!

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