O carcereiro

Essa corrida aconteceu no período oficial de veraneio, que é quando o nível do rio baixa e os bancos de areia aparecem atraindo milhares de banhistas. Com a temperatura se aproximando dos 40º C, as praias do Cacau, do Meio e da Bela Vista são pontos certos de lazer e com isso motoristas por App fazem muitas viagens para esses locais.

Em um domingo, recebi uma chamada na Br. 010, ali próximo do Portal da Amazônia, bem na entrada da cidade de Imperatriz, chegando lá era um homem sozinho, confirmei logo o destino, só depois que autorizei a entrada no carro. O passageiro ia para a praia do Cacau.

Peguei a estrada da ponte Dom Afonso Felipe Gregory para entrar no bairro Parque Anhanguera e seguir com destino à praia, fomos conversando. Era um passageiro discreto, óculos escuro e muito desconfiado.

No percurso disse que é de Imperatriz, mas trabalhava em São Luís. Quando passamos em frente à Unidade Prisional de Ressocialização de Imperatriz-UPRI- antiga CEREC, ele disse que era carcereiro e que passou 7 anos trabalhando ali.

Fiquei surpresa com a fala dele e curiosa com a profissão, comentei sobre a série “Carcereiros”  da rede Globo, ele sorriu e disse: “Moça, acredite, tudo que passa ali é verdade e tem muito mais coisas, só que a censura nunca permitirá que vire filme”.  

Seguimos estrada, ele falou do sofrimento das famílias ao irem visitar os internos, comentou as tentativas de suborno que recebe e falou da falta de assistência nas unidades de ressocialização. 

Foram uns 2 quilômetros desde a unidade até a entrada da praia, foi uma conversa muito interessante sobre uma situação que a sociedade pouco debate, as condições de trabalho dos agentes penitenciários e também a vida dos internos.  

Quando chegamos, antes de descer ele deu uma olhada rápida para ver se tinha algum suspeito, ele disse que os carcereiros são muito mirados por bandidos, mas nesse dia graças a Deus não encontrou nenhum, pagou e desceu rumo às barracas.

Neste dia estacionei meu carro e fui curtir o rio Tocantins, afinal de contas também sou filha de Deus.

Juliana de Sá

Jornalista por formação e curiosa por vocação! Nas horas vagas dirijo por aplicativo nas ruas de Imperatriz, onde ouço todo tipo de história e as transformo em texto. Às histórias são reais com uma leve liberdade poética, se você gosta de imaginar venha comigo nessa!

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