Mulheres e literatura - Parte II

Dando continuidade à coluna colaborativa com Érica Souza, indicaremos mais dois livros escritos por mulheres.

Idayane Ferreira: “Quando pedi a Érica que indicasse três livros escritos por mulheres, para uma coluna colaborativa, também precisei escolher as minhas três indicações, e esse livro foi um dos primeiros que veio à minha mente:  As alegrias da maternidade, da escritora nigeriana Buchi Emecheta. Foi o quarto livro que recebi pela TAG – Experiências Literárias, clube de livros que assinei entre 2017 e 2021. A indicação foi de uma escritora que admiro muito, a também nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

A história se passa nos anos 30, na Nigéria, e retrata a vida de Nnu Ego, filha de um grande líder africano, que é enviada como esposa para um homem na capital Lagos. O sonho da Nnu é ser mãe e assim tornar-se uma “mulher completa”. Submetendo-se a condições de vida precárias, enfrenta praticamente sozinha a tarefa de educar e sustentar os filhos. Entre a lavoura e a cidade, entre as tradições dos igbos e a influência dos colonizadores ingleses, ela luta pela integridade da família e pela manutenção dos valores de seu povo”.   

Érica Souza: “Hoje apresento Dominó Preto (Editora Martin Claret, 2010), da poetisa portuguesa Florbela Espanca. É o primeiro livro de contos escrito por Florbela, porém foi o último a ser publicado. Carregado do seu eu-feminino, o livro, composto por cinco contos, traz a essência e a intensidade desta mulher. Por vezes seus escritos foram interpretados de forma contraditória, que se fundem exprimindo uma mulher à frente de seu tempo.

A obra é composta por personagens femininas: A femme fatale; a casta e virginal; a dona de casa séria e comprometida com a família; a escritora e a sonetista capazes de levar homens à loucura com o caminho das palavras em prosa e versos; outra capaz de abdicar do homem que a ama para se divertir. O que todas têm em comum? A sede de levar seus homens à alucinação, ao desejo, ao delírio, ao amor, à audácia, ao medo, ao horror, à espera, à procura, à angústia.

Com toda a complexidade que seus versos sejam interpretados, a primeira sensação que nos remete o livro é dos versos decididos e apaixonados. De fato, a autora modernista portuguesa tem característica de poetisa apaixonada (e apaixonante), inerente a sua alma. Entretanto, nessa obra Florbela revela outra de suas facetas: a de contista.

O Dominó Preto aborda de maneira bem instigante a liberdade de várias mulheres que compõem a Florbela. É um chamado a liberdade em nós, mulheres, para acender tudo que nos foi apagado, o que há de mais emancipatório em nossa alma e caminhada. É uma mistura de beleza, enigma, anseio e sede pelo novo, que não se resume somente ao amor. Agustina Bessa-Luis registra na contracapa do livro: ‘Florbela Espanca escreveu como uma Eva, a sedutora, e viveu como uma Lilith, a feiticeira, a mulher primeira, que, tendo se evaporado, revive na alma feminina o seu mistério'”.

Idayane Ferreira

“Jornalista com “abundância de ser feliz”, mais “da invencionática” do que “da informática”, acredita piamente que Manoel de Barros escreveu “O apanhador de desperdícios” baseando nela.“

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