Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço - Adriana Negreiros

Adriana Negreiros é uma jornalista e escritora brasileira. Ela nasceu em São Paulo em 1974, cresceu em Fortaleza e atualmente vive no Porto, Portugal. Sua carreira no jornalismo começou em 1996, quando trabalhou como repórter de política no jornal Diário do Nordeste. Além disso, ela também contribuiu para as revistas Veja, Playboy e Claudia. É autora de dois notáveis livros e é sobre um deles que eu irei escrever hoje e recomendar com cautela a leitura dele, devido a descrições gráficas de cenas estupro e violência.

O livro de não ficção Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço já de cara, apresenta três aspectos que gostei muito: o primeiro deles é que tudo que é escrito dentro do livro é pautado tanto em referências de pesquisas sobre o assunto de jornais locais da época e relatos de familiares, o segundo aspecto é que a escritora utilizou a linguagem local da época, os jargões que os cangaceiros usavam para se referir aos policiais…, o terceiro é a forma como os capítulos foram divididos, com o cordel ao início de cada capítulo, formando a história completa no fim, então fica uma leitura bastante envolvente, mas nem por isso fácil.

O interessante desse livro é a escolha do tema cangaço pelo ponto de vista feminino e, diferente do que a imprensa noticiava, não eram nascidas no crime. Nem todas se apaixonaram por cangaceiros como aconteceu com Maria Bonita, muitas foram dadas e vendidas por suas famílias, entre 13 e 19 anos. Outras, fugiram de casamentos violentos e sem amor para se juntarem aos comparsas de Lampião.

Com essa leitura não vemos mulheres apenas vítimas da violência de gênero. A escritora nos mostra mulheres transgressoras e empoderadas, cada uma a sua maneira, que enfrentaram a fome, sede, perseguição policial, mas tiveram amores em meio à crueldade dos homens. Mulheres que foram apagadas da história, mas que tiveram papéis importantes no cangaço e viviam fora dos padrões da época.

Maria Bonita – Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço é um livro forte sobre uma vida violenta, que se compromete a acreditar e validar os relatos das cangaceiras, diferentemente de tantos outros autores que vieram antes. Adriana Negreiros traz certa imparcialidade aos relatos, porém nunca colocando em dúvida a versão dos fatos contados pelas mulheres. Tão fascinante quanto tenebroso, como acontece com todas as histórias que retratam uma violência tão gratuita e forte contra as mulheres. Recomendo muitíssimo, seja você um fã de história ou não. Mas é sempre bom entender o círculo perpétuo da violência que gera mais violência.

Andrelva Sousa

Graduada em Serviço Social pela UNISULMA e faço parte do Clube de Livros Mulheres em Prosa que é um grupo de leitura de mulheres que leem mulheres e que se reúnem uma vez a cada dois meses para debater uma obra de autoria feminina. Nessa coluna, pretendo compartilhar com vocês sobre as leituras que já fiz e quais as percepções que elas me trouxeram. Uma frase que gosto muito é da Rosa Luxemburgo que diz o seguinte: ”Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”.

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