Como pessoa adulta, continuo gostando muito de livros infantis, este ano li “A mulher que matou o peixe” e “A vida íntima de Laura”, ambas obras de Clarice Lispector, “Contos de adivinhação”, de Ricardo Azevedo, “Simbá, o Marujo”, de Stela Barbieri com lindas ilustrações do Fernando Vilela, só para citar alguns.
Já contei em uma das colunas que gosto de livros desde a infância e que “lia” os livros antes de aprender a ler de fato. Sou um ponto fora da curva na minha família, em que livros não são tão presentes e nem o objeto mais desejado pelos meus irmãos. Minha vó paterna, Ana, era professora e, embora não tenha lembrança de que ela lesse livros para os netos, sempre foi uma excelente contadora de histórias de fascinante literatura oral.
A Bíblia era um dos poucos livros na minha casa, e a minha mãe lia para a gente o exemplar herdado da mãe dela, minha avó Júlia. Eu achava interessante e, sendo uma criança imaginativa com tendência a acreditar nas coisas tal qual estavam escritas, morria de medo de Apocalipse. Nem é difícil imaginar o que trechos como o que transcrevo abaixo despertavam em mim:
1E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
2 E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz.
3 E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas.
Só mais tarde compreendi o contexto desse que é o último livro da Bíblia e sua complexidade interpretativa, resultado de uma linguagem simbólica. O termo apocalipse vem do grego “Apokalypsis”, que significa “revelação”, e foi escrito pelo apóstolo João em um período de intensa perseguição aos seguidores de Cristo. Depois que aprendi a ler é que tive acesso à literatura infantil, mas “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry e “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll, verdadeiros clássicos do gênero, li entre a adolescência e a vida adulta.
Estudante no curso de eletrotécnica no Instituto Federal do Maranhão (IFMA), em Imperatriz, era uma frequentadora assídua da biblioteca. Foi quando me deparei com a versão colorida de capa dura do livro de Carroll, que conta as aventuras de Alice. Meus colegas, claro, caçoaram do fato de que estava lendo livros infantis ao invés dos técnicos.
Quando chegaram os meus sobrinhos, filhos dos meus irmãos, passei a comprar livros e ler para eles. Optei primeiramente por livros sensoriais, em que poderiam ouvir e “sentir” do que o livro estava falando, e eles adoravam a história de um menino que estava com medo do monstro imaginário, que não era tão imaginário assim. Além de entretê-los contando histórias, o fato de ler para eles criava um momento de conexão, aprendizado, desenvolvimento e diversão. Então, não raro, quando os encontrava, eles me pediam para ler, principalmente à noite.
A literatura infantil é um universo mágico onde palavras e imagens se encontram para criar histórias que encantam, educam e inspiram as mentes de crianças e adultos. Por isso, sou fã desse tipo de livro. As rimas, repetições e cadências encontradas em muitos livros infantis ajudam a melhorar a memória, o vocabulário e as habilidades de comunicação. Além disso, as histórias estimulam a imaginação, permitindo explorar mundos fictícios e exercitar a criatividade.
Ao fazer da leitura uma parte essencial do meu convívio com os meus sobrinhos, acredito que, além de fortalecer o vínculo com eles, estava transmitindo meu amor duradouro pela literatura. Acho que deu certo: da última vez que estive com a minha sobrinha mais velha, na época com 7 ou 8 anos, e que estava em fase de alfabetização, ela chegou com um livro e disse: “Tia, vou ler para você.”
Ler para as crianças não apenas enriquece seu mundo interior, mas também planta as sementes para um futuro em que o conhecimento, a imaginação e a criatividade florescem abundantemente. Então, por favor, adultos: leiam para uma criança (tenho certeza de que vocês também vão gostar).