Há uns oito anos mais ou menos, Imperatriz recebeu a construção de uma grande fábrica. Para a obra vieram muitos operários de todos os cantos do Brasil, quem já morava aqui deve lembrar da movimentação na cidade com a chegada desses trabalhadores. É sobre esse período da história de Imperatriz que vou falar hoje, ou melhor, de uma pequena herança dessa época.
Estava no Centro quando recebi a chamada, fui buscar a passageira perto do Calçadão. Entraram no meu carro uma mulher junto com um menino de uns seis anos. Iniciei a corrida e perguntei para a criança como era seu nome, ele respondeu e logo apresentou a mãe também. “Muito inteligente seu filho”, eu comentei com a passageira. Ela, toda boba, disse: “É minha herança”.
Ela é uma jovem secretária, tem apenas o garoto de filho. Me disse que a última vez que viu o pai da criança foi quando avisou para ele que estava grávida. Durante o percurso entre o Centro e o Parque Planalto fomos conversando, ela se sentiu à vontade para contar que conheceu o pai de seu filho em uma festa na Beira Rio, trocaram telefones e começaram a se encontrar.
Para conquistar a moça, o homem disse que era engenheiro, contou que estava apaixonado e que queria construir uma vida com ela, pois era o grande amor de sua vida. Os dois namoraram por três meses, mas foi só ficar sabendo da gestação que o homem logo deu um jeito de fugir.
Pelo que me lembro, o maior fluxo de operários em Imperatriz durou aproximadamente três anos. A economia ficou aquecida, todos os imóveis de aluguel estavam ocupados, restaurantes sempre com muita gente, bares e casas de festas sempre lotados. Alguns marmanjos que saiam para azarar na noite se apresentavam como engenheiros da S. (vou abreviar o nome porque todo mundo sabe de quem estou falando, rs).
Minha passageira não foi a única que caiu nessa conversa. Todo mundo tem uma conhecida ou conhecido que ficou com um “engenheirinho”, que na verdade eram profissionais das mais diversas áreas: encanador, porteiro, motorista, soldador e etc e tal, que para se darem bem na noite diziam ter cargos altos na empresa.
A jovem mãe disse que não vai atrás do homem, porque não sabe nem onde procurar. “Se ele mentiu tanto, pode ter mentido também de onde era”, ressaltou. Quando já estávamos quase chegando no destino ela falou que no início ficou chateada por ter sido enganada, que demorou a aceitar a gravidez, mas que com o passar do tempo a tristeza foi acabando e seu coração abriu lugar para o amor do filho.
Ao descer do carro a criança me deu um “tchau, tia” muito fofo e seguiu para casa. Espero que quando ele crescer se torne um homem melhor do que seu progenitor.