Como professora com mais de 10 anos de experiência nos três segmentos da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e no Ensino Superior, frequentemente lido com uma grande diversidade de pessoas, em diferentes fases da vida (de crianças pequenas à adultos na terceira idade). Porém, só recentemente (há cerca de 1 ano), fui me atentar para um assunto muito importante: como o estereótipo de gênero podem prejudicar meninas até mesmo em diagnósticos relacionados a transtornos como o TDAH.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição que afeta crianças e adultos, mas é notável que meninas com TDAH enfrentam muitas vezes diagnósticos tardios, em grande parte devido aos estereótipos de gênero arraigados em nossa sociedade.
Uma das principais razões para o diagnóstico tardio é que os sintomas do TDAH, predominantemente, manifestam-se de formas diferentes em meninas em comparação com meninos. Enquanto, frequentemente, os meninos podem exibir comportamentos mais impulsivos e hiperativos, as meninas demonstram desatenção, passividade e falta de foco. Esses sintomas podem ser erroneamente associados a características femininas tidas como “naturais”, como docilidade, tranquilidade e timidez.
Os estereótipos de gênero também pressionam meninas a se conformarem a padrões de comportamento impostos a elas como adequados. Espera-se que sejam mais calmas, dóceis, sonhadoras, menos inclinadas a atividades que demonstrem vigor físico e intelectual. O que faz com que os sintomas de desatenção, passividade e falta de foco passem despercebidos ou sejam subestimados. Os pais, educadores e profissionais de saúde podem, involuntariamente, negligenciar a possibilidade de TDAH em meninas devido a essas expectativas sociais.
Além disso, de acordo com pesquisas relacionadas ao assunto, as meninas com TDAH constantemente desenvolvem mecanismos de adaptação para lidar com os sintomas, mascarando suas dificuldades. Elas podem se esforçar para manter a organização, a constância e a atenção em suas atividades, mesmo que isso exija um esforço extraordinário, ou que faça com que suas dificuldades não sejam notadas.
O diagnóstico tardio (ou até mesmo a falta permanente de um diagnóstico) significa que as meninas com TDAH deixarão de receber o suporte necessário quando mais precisam. Isso pode levar a dificuldades acadêmicas, baixa autoestima e desafios emocionais.
Portanto, é fundamental considerar o papel dos estereótipos de gênero na demora do diagnóstico do TDAH em meninas. O conhecimento sobre as diferentes manifestações do TDAH em meninos e meninas permite que educadores, profissionais de saúde e pais possam identificar precocemente essa condição em todas as crianças, independentemente do gênero, e fornecer o suporte necessário para que alcancem todo o seu potencial.
Finalizo esse texto ressaltando que a desconstrução de estereótipos de gênero é crucial nesse processo, pois permite que as meninas sejam vistas e compreendidas em sua diversidade, incluindo aquelas que enfrentam desafios associados ao TDAH. Esse é um passo importante na direção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária.