Qual a probabilidade de em uma saída eventual numa sexta pós-trabalho você encontrar, ao puro sabor dos acasos, alguém com quem a conexão se desenha rapidamente ao primeiro olhar, com uma conversa que rapidamente flui, com corpos que prontamente encontram o equilíbrio de impulso para dançar juntinhos e com um beijo que encaixa como se estivesse lá só esperando o dia de sua passagem?
Não sei. Sou de humanas. Deixo o cálculo de probabilidade para os matemáticos. Eu só sei que acredito em encontros e aconselho você a acreditar também. Sei também que mesmo com pouco ou nenhuma esperança, a maioria das pessoas saudáveis está esperando sua vez de entrar no trem da conexão.
Disse ao “puro sabor do acaso”, mas confesso que tenho dificuldade de acreditar que a vida se desenrole em movimentos aleatórios. Muitas vezes, e mesmo quando os sapatos apertam os calos, tenho assumido a postura de observar os movimentos como um grande e longo desfile.
E aqui cabem pelo menos três analogias. A primeira é de que só conseguimos ver com clareza a ala que está à nossa frente. A segunda é que há sincronia e harmonia com tudo que já passou e com tudo que está por vir. A terceira, e não menos importante, é de que o movimento é constante. Parece romântico. E de fato é. Às vezes é bom utilizar uma gota extra de doçura e esperança.
Mas há um porém. No seu desfile, é você o principal responsável por montar as alegorias, organizar os participantes, reger a banda, sincronizar as balizas, montar os figurinos, decidir sobre a evolução, enredo, determinar quem entra, quem fica e quem sai (e quando). Aí a coisa já aperta um tanto, não é? Mas não enrijeça demais porque desanda tudo.
Tem também os que creem no caos organizado. Mas mesmo esses logo descobrem que a premissa requer estar na condução de si. Não há fuga. Estamos diante da pedra fundamental das relações, das conexões, dos encontros.
Não precisa necessariamente ser de exatas para intuir que uma conexão profunda num sextou ou outro dia qualquer é pequena de acontecer, sobretudo, num momento coletivo de pregação de desapego, de culto à morte das expectativas. “Crie capim, mas não alimente expectativas”, dizem por aí. Mas sabe do mais, um por cento de chance é chance. Todo e qualquer história começa no minuto um. Toda e qualquer relação longa começo no dia um. Só temos clareza daquilo que está à nossa frente. O momento primeiro precisa ser vivido, e pode ser decisivo.
Quando o trem de uma verdadeira conexão passar por você, deixe de lado o cansaço, a guerra da semana que finda, o cabelo não aparado, a barba não feita, o saco de certezas de vivências anteriores. Só vive, experimenta.
A gente nunca sabe se aquela ala do desfile vai somente passar ou ficar e reorganizar o porvir, os planos (lembra do equilíbrio, tá? Nada de mergulhar de cabeça em piscina seca).
E não esquece o velho e bom clichê: As coisas mais gostosas da vida acontecem quando não se espera nada. A vida te olha e diz: “Aproveita aí, você merece”.
Mulher preta, baiana do interior, mas acolhida pela capital (Salvador). Jornalista de formação, fui pescada para a cobertura política muito cedo, e aí estou há uma década. Na vida, um ser que deseja experimentar a multiplicidade do Universo e dos universos (humanos). Um coração pisciano que deseja desbravar o desconhecido. Amo os clichês e a forma como se mostram imperativos na vida cotidiana. Simples e grandiosos, acredito que carregam os segredos de um viver “ser”. Como Belchior, “não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja”. E talvez seja este o meu principal desafio. Neste espaço, te convido para refletirmos sobre o cotidiano e como a vida prática nos atravessa.