Assistia ao jornal da manhã quando de relance a viu na cozinha descascando cenouras, estava sentado na sala, olhou-a bem dos pé a cabeça, “continua bonita”, pensou; ela estava absorta nos afazeres domésticos e não o percebeu, aos domingos ele ficava deitado até tarde, ela se deixava em paz.
Da copa, viu que ela parou por um momento colocou o pé descansando no joelho e arrumou o cabelo com as “costas” da mão e olhava pela janela que dava para o quintal, o sol reluzindo o castanho de seus olhos, cenoura na mão, descascador na outra e naquele momento ela parecia a mulher mais linda do mundo para ele.
Sem entender o porquê sentiu o cheiro dela, sentiu o gosto dela e teve vontade de chorar, mas não chorou, não fora ensinado a sentir a ponto de transbordar. Num ímpeto levantou-se devagar e foi até a cozinha e de surpresa a beijou, um beijo longo como os que se davam quando eram namorados. De olhos fechados ela disse que amava-lhe e antes que outras palavras ou frases surgissem ele a calou com mais um beijo e saiu.
Parada e pasma ela olhou novamente para o quintal. Ele seguiu para o quarto onde se deitou na cama e chorou. O dia continuou em busca da noite que traria outro dia que traria outra noite e como em todos os outros dias a segurança em tê-la por perto o faria esquecer-se do quanto a amava.