Me preparei para a primeira viagem de campo uma semana antes porque tinha que conciliar a pesquisa com o meu trabalho em uma escola privada na cidade de Açailândia. Durante este percurso de ir à campo, percebi a enorme oportunidade de aprofundar laços com pessoas (principalmente as mulheres) já conhecidas e acender novos afetos pelos caminhos.
Foram caminhos que me conectaram às comunidades suas teorias e gramáticas, reforçar os antigos afetos e se abrir para a construção dos que estavam por vir. Estradas e trilhos que me direcionaram aos territórios e seus saberes que desconhecia e hoje fazem parte desse entrelaçado que me permito chamar de eu.
As primeiras visitas foram na cidade de Santa Rita e Itapecuru-Mirim para conversar com Machado liderança quilombola da comunidade Santa Rosa dos Pretos e a Margarida pescadora e liderança da comunidade Sítio do Meio 2 (os nomes fictícios foram escolhidos por elas por questões de segurança).
Durante o trabalho de campo exploratório percebi alguns elementos relevantes para a entender de forma minuciosa os conflitos da região. Dentre eles, como as mulheres se auto organizam em meio aos inúmeros conflitos. Em todas as entrevistas e conversas, com as lideranças femininas por onde pude transitar, existia uma revolta em relação às grandes empresas e seus megaprojetos de desenvolvimento que não traz benefícios para as comunidades.
Depois de uma longa conversa com Margarida ela repetiu algumas frases como “desenvolvimento pra quem?!”, “é da terra que tiramos nosso sustento”. Apesar dos impactos tão graves na vida dessas comunidades, e de uma forma singular na rotina dessas mulheres, as lideranças femininas não fazem parte do coletivo chamado de “Vozes Silenciadas”.
Ah! Digo entre aspas, pois a enunciação da dependência que traz essa voz silenciada não retrata mais a luta por garantia de direitos dessas mulheres lideranças, suas vozes ecoam longe, provoca, incomoda, angustia e como diz o grito de resistência das mulheres negras latino americanas e caribenhas: “as mulheres são como as águas, crescem quando se juntam. Pensar a comunicação como rede que fortifica e ecoa os laços de resistência desde os territórios e como direito, a ser conquistado e garantido, dia a dia, é a convocação posta”.
Por Érica Souza