Mas afinal o que é o dote? Isso ainda existe na sociedade contemporânea?
Nesta Coluna quero compartilhar o que significa o dote na cultura africana, especialmente para os povos Bantus e Nilóticos. Para isso, começo a descrever o que foi o dote na sociedade brasileira no período colonial.
Se voltarmos aos séculos XVll, XVlll e XlV entederemos melhor o que isso significou na sociedade brasileira. No Brasil o dote foi introduzido pelos colonizadores portugueses, tradicionalmente se constituía nos bens materiais que a noiva levava para a vida conjugal, tais bens eram doados pelo patriarca da família da qual a noiva pertencia. Permeando a vida familiar, o dote era um meio necessário para que pacto matrimonial acontecesse. O dote ainda era considerado um meio viabilizador dos casamentos entre as famílias de posse, sendo o grande responsável pelos acordos e estratégias familiares envolvendo interesses políticos e econômicos.
Com o objetivo de formar uma nova unidade familiar, o dote trazido pela moça possibilitava os recursos necessários de estabelecimento de poder social e político que estava baseado na riqueza, bens materiais e recursos humanos, como índios e escravos africanos para ampliação do poder econômico da família.
Ter um dote simbolizava ainda o status para a mulher e sua família de origem; em outras palavras a mulher com dote era respeitada pela sociedade. Naquela época quem influenciava na decisão do jovem casal era o patriarca da família, ou seja, o pai da noiva, assim o casamento era considerado realmente o acordo entre as duas famílias e quem “pagava” o dote era a noiva, sendo ela obrigada a aceitar como marido o jovem que havia sido escolhido pelo seu pai e que muitas vezes o primeiro encontro entre os dois era no dia do casamento. O pagamento do dote representava o forte elo entre as duas famílias.
Dote na cultura africana
Já na cultura africana o dote acontece ainda hoje representando um alto rendimento para muitas famílias, especialmente nas zonas rurais e periféricas deste imenso continente, contudo no mundo africano o dote se diferencia por várias razões, aspectos sociais e culturais.
A exemplo do Quênia – um país da África ocidental – o dote é legalmente aceito e o pagamento mínimo refere-se a cinco anos de trabalho do noivo, contudo cada tribo decide de acordo com suas tradições específicas e costumes dependendo da escolaridade e idade da jovem. Outro aspecto significativo que deve ser notado aqui no contexto africano, é que o dote é pago pelo noivo para a família da noiva.
Em uma das tribos do Quênia chamado Kalenji quem decide o preço do dote são os pais e avôs da noiva. Ainda na referida tribo, o dote consiste no pagamento de cinco vacas e lençois que devem ser entregues a família da noiva.
Enquanto na tribo Meru, também no Quênia, o que determina o valor do dote é o grau de escolaridade que a noiva recebeu, quanto mais alto maior será a quantia de dinheiro a ser paga pelo noivo, quanto menos educação, menor será a quantia de dinheiro paga.
Já na tribo Lokele da república democrática do Congo o dote é entedido e realizado de maneira diferente como descrito a seguir. Para o povo Lokele o dote significa um símbolo de reconhecimento para a família da noiva pelo bom trabalho que fizeram para criar-la, educá-la e para torná-la mulher. Eles acreditam que o dote é uma forma de respeito à noiva e sua família, boas maneiras para com a família da noiva e bênçãos para o novo casal. O noivo ainda prover bens como roupas, terno e camisa para pai e para a mãe da noiva, animais sendo duas cabras ou e dois porcos, prover ainda cerveja, wisky ou ainda bebidas locais. Uma faca grande para o pai e alimentos como: arroz, mandioca, óleo, sal, especiarias, peixes e alguma quantia em dinheiro.
Em resumo, o dote no contexto africano significa também melhoria economica em alguns aspectos, pois os bens ou dinheiro pago pelo noivo serão utilizados para melhorar a condição de vida da família da noiva, contudo em algumas tribos como a Maasai, no Quênia, o dote é a principal causa de casamentos precoces, onde muitas meninas são impedidas de continuar seus estudos, pois os pais as obrigam a casar ainda quando são menores de idade, embora a UNICEF esta tentado realizar um trabalho de conscietização sobre as consenquências dessa prática do casamento precoce junto a referida tribo, contudo para muitos membros dos povos Maasai o dote ainda hoje é um rentável negócio.