A arte de (não) comprar livros pela capa

Às vezes, como é o caso de hoje, meus amigos dão ótimas sugestões de tema para a coluna:

 – Idayane, por que tu não escreves sobre as pessoas que compram livros pela capa?

 – Mas escrever o quê? Ultimamente só compro os que estão na minha lista. Dou um sorriso satisfeito de quem há algum tempo passou a comprar livros de maneira mais consciente.

– Ah! Escreve sobre pessoas que compram livros pela capa, mas não leem depois. Vai dizer que tu não tens nenhum assim na estante?

-Verdade!

Meu passado me condena. Tenho pelo menos uma dezena de livros nessa situação, sendo no mínimo otimista. Entretanto, veja bem, não é que eu comprasse livros pela capa, era mais pelo preço. Sendo barato, comprava vários. Isso não significava que os livros fossem ruins, não raro acontecia de encontrar verdadeiros “achados literários”, mas acontece que em determinado momento “caiu a ficha”: por impulso comprava mais livros do que conseguia ler.

Para você ter uma ideia: um dia, no Salão do Livro de Imperatriz (Salimp), comprei 26 livros de uma única vez (!) e gastei R$ 130 no total. Uma verdadeira bagatela, como diria um amigo meu que até pouco tempo também “chutava o balde” na hora de comprar livros. Sai de lá feliz da vida e precisando de ajuda para carregar tanta coisa. Chegando em casa, porém, me dei conta de que não tinha onde guardar. A minha estante estava lotada há tempos.

Aos poucos, alguma coisa foi mudando em mim. Conheci um podcast de literatura, assinei um clube de livros e passei a trocar impressões literárias com outras pessoas. Fui firmando meus gostos literários. Ir em livrarias já não era algo tão empolgante, folheava alguns livros e na maioria das vezes, ia embora sem comprar nenhum. Também já não me ligava tanto nas promoções e acabei contagiando meu amigo comprador-impulsivo-de-livros. Resumindo assim parece que a nossa vida ficou mais triste, mas foi justamente o contrário: encontramos sentido em comprar alguns livros e passamos também a ler mais.

Comprar livros por impulso pode ser uma pista de que estamos tentando preencher vazios, consumindo.  E como é sempre bom repensar velhos hábitos, aqui vão algumas dicas que me ajudaram a não comprar livros pela capa (ou apenas pelo preço):

  • Peça indicações de amigos e tente montar uma lista de desejos literários (minha sugestão é que tenha no máximo 10 títulos);
  • Troque livros com outros leitores;
  • Na dúvida sobre comprar ou não um livro, volte no dia seguinte;
  • Não é um livro da sua lista, mas chamou sua atenção? Se possível leia as orelhas, a sinopse e um trechinho do texto;
  • Ouça podcasts de literatura ou acompanhe booktubers;
  • Tenha cadastro na biblioteca pública;
  • Ouça audiobooks;
  • Converse com pessoas que possuam gostos literários bem diferentes dos seus;
  • Leia artigos de opinião em sites sobre literatura;
  • Participe de clubes de leitores;
  • Acompanhe sites e redes sociais de editoras;
  • Dê prioridade para os livros que já estão na sua estante.
Idayane Ferreira
Idayane Ferreira

“Jornalista com “abundância de ser feliz”, mais “da invencionática” do que “da informática”, acredita piamente que Manoel de Barros escreveu “O apanhador de desperdícios” baseando nela.“

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