
Em uma conversa, pelo WhatsApp, no início do ano, com Daniela Souza e Idayane Ferreira, coordenadoras aqui do Portal Assobiar, ouvi pela primeira vez o nome “Daissak”. Achei bem curioso e diferente, há muito tempo não escutava um nome tão original. Dani e Ida, chamadas assim de forma carinhosa, pela gente (nós, jornalistas do Portal), logo me passaram a pauta: entrevistar Daissak para um perfil. Pesquisei a fundo sobre a artista e sobre como escreveria este texto, pois seria meu primeiro perfil para o Assobiar.
Olhando as redes sociais da artista, recordei que ela era estudante de Jornalismo, na época que ingressei no curso de sociologia, em 2016, na Universidade Federal do Maranhão. Daissak que era Danielly, fazia poemas e se apresentava artisticamente com um pandeiro em saraus e festas de calouros dos cursos de humanas da universidade.
O tempo passou e demorei para marcar a entrevista com a artista marabaense, por questões de horário e conflitos de agenda dos dois, pois além de artista, Daissak é mãe, estudante e se aventura no mundo dos editais de financiamento cultural. Em uma noite de uma terça de março, o nosso encontro pelo Google Meet deu certo, queria muito entrevistá-la pessoalmente, mas a distância ainda é um empecilho. Assim que eu entro na videochamada, ao lado dela estava seu filho que olhava atento para a tela do celular. Nos apresentamos e lembrei a ela sobre a época da universidade.
De início pergunto para ela, como surgiu seu nome, ela comenta que abraçou como nome artístico em forma de homenagem. Daissak é o nome de trás para frente da sua mãe, Kassia, e a letra “D” foi incrementada para dar identidade para a artista: “Tanto meu pai quanto minha mãe tem uma ligação com a música e a arte. Nada mais justo que homenagear os dois, o D de Danielly que meu pai colocou e o Kassia, o nome de minha mãe”.
Fotos: Assessoria de Comunicação da artista Daissak.
Daissak, é formada em Jornalismo e estudante de pedagogia. Pesquisa sobre educação, arte e cultura e tem na música sua principal fonte de renda. Tem uma forte ligação com a arte desde a infância quando cantava na igreja que os pais dela frequentavam: “Eu comecei cantando na igreja evangélica, tive essa primeira experiência nesse ambiente religioso que foi o primeiro espaço de formação artística”.
Se define como artista popular. Para ela, a música e a poesia são formas de retratar a si mesma, ou seja as suas raízes: “Para falar de arte eu preciso falar sobre mim, cantar nos versos o que eu tenho ao meu alcance que é o meu corpo, a natureza e o sentir”. A poetiza, que sempre se colocou também como artista transitória, afirma com orgulho suas origens marabaenses e tem a cidade de Imperatriz como sua segunda mãe: “Eu sou essa artista que transita entre Maranhão e Pará, sou nascida no Pará, mas tenho Maranhão como minha segunda casa”.
Em seu EP, de nome Daissak ou também conhecido como ‘Ar Mitocondrial’, a artista aborda elementos importantes que destacam a sua construção artística. No videoclipe do mesmo nome, ela traz paisagens naturais, arranjos e musicalidade xamânica. Suas mãos se movimentam como o percurso da água de um rio, que pode ser interpretado como o rio Tocantins e rio Itacaiúnas, que banham a cidade de Marabá.
Adentrando a floresta, a artista procura o que sempre esteve dentro dela, assim como canta no verso da música: “Teu corpo foi primeira casa, primeira água, primeiro alimentar, primeira segurança, primeiro despertar, teu corpo é morada”. A areia da praia reflete o deserto, um lugar representado como simbolismo de transformação e autoconhecimento. No leito do rio e em posição fetal, a artista retrata o renascimento para o mundo. A guitarra juntamente com os maracás formam o ritmo de carimbó, a dança circular colocada junto com as imagens das belezas naturais torna o lugar envolvente ao final do videoclipe.
“Ar Mitocondrial representa o renascer para estar no mundo, é o meu primeiro lançamento como compositora, é esse primeiro movimento, é o meu primeiro videoclipe, é meu primeiro EP, então, tudo é nesse sentido de movimento autoral e que traz elementos da natureza”.
Ela conta que o renascer veio depois de algum tempo interpretando músicas de outros artistas como Clara Nunes e João do Vale: “Eu estava muito na interpretação de outros artistas. Depois disso eu entrei de cabeça nesse movimento da música, da composição, é esse movimento mesmo de renascer, de força interior”. Ressalta ainda que a escrita de si influencia seu trabalho, motivada por autoras como Bell Hooks e Conceição Evaristo: “É esse movimento da autoconfiança feminina, né? Essa escrita de si também é muito forte, esse movimento de se conhecer e se mostrar ao mundo de forma confiante está no meu trabalho”.
‘Oh Chuva’, a segunda música do EP, retrata o estado do Maranhão no ritmo envolvente do Reggae. “Eu escrevi a música, e o Denilson Moreira, meu amigo e artista pensou no arranjo. E nada melhor que um reggae para homenagear São Luís”.

Quando a artista escreveu a música, em 2021, era época da pandemia de Covid-19. A artista estava numa roça no interior do Pará, e passava por momentos de transição. Havia muitas dúvidas sobre como seria o seu caminho no mundo da arte. A chuva caia e sentia saudades do Maranhão e desejou fortemente que a chuva a levasse de volta para o Maranhão: “Que água da chuva me leve pro rio, me conduza me lave e me leve pro mar. Lá pro mar de São Luís, do Maranhão”.
“Eu estava numa roça e estava chovendo muito e eu estava passando por um momento de transição muito forte. E justamente foi nesse início da carreira. E aí a chuva caindo e aí eu querendo voltar para o Maranhão. E estava tudo incerto e eu pensei: Meu Deus, eu sou muito maranhense. Aí eu fiquei muito nostálgica”.
Em Areia ‘D’água Doce’, sua última composição do EP, une Imperatriz e Marabá. A artista experimentou as águas do Rio Tocantins e Itacaiúnas e expressou bem na música a cultura das duas cidades. Em certo momento do ano, toda a população espera ansiosa pela chegada das praias de água doce: “Areia ‘D’ água doce’, Areia D’ água doce, todo ano você vai e vem, toda população te espera. E aproveita cada pedacinho quando tem”.
“Areia d’Água Doce é a junção de Maranhão e Pará. E aí a areia é para falar dessa coisa bem estereotipada aqui da nossa cidade mesmo. Quem é marabaense ou imperatrizense, passa o ano inteiro esperando para criar aquele campo de areia para praticamente morar lá e desfrutar”.
Neste momento, Daissak firma sua carreira como multiartista: canta, compõe e dirige criativamente. Além disso, também conta com um grupo de pessoas para fazer este trabalho que ela chama de movimento autoral. “Eu vivo muito meu trabalho e estou sempre correndo atrás de editais e conto com o apoio de vários artistas do Maranhão e do Pará. Seja de direção de fotografia, produção, direção de arte e vídeo. Meu trabalho emprega várias pessoas”.
A artista reflete sobre como a arte é vista na nossa região e espera inspirar outras mulheres que pensam em começar na carreira da música: “Meu trabalho é esse movimento feminino mesmo. Do corpo da mulher, o corpo em cena, o corpo no empreendedorismo, o corpo na autonomia e esse corpo que também é mãe, esse corpo que é jovem ou maduro”.
Me formei em jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão em 2024, trabalhei em produção de TV e reportagem, produção publicitária e analista de comunicação. Atualmente trabalho como repórter freelancer no Portal Asssobiar, desenvolvendo pautas com temáticas em cultura e direitos humanos. Me interesso por jornalismo cultural e comportamento.
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