“A moda não é algo que existe apenas nos vestidos: ela está no céu, na rua. A moda está relacionada com as ideias, a maneira como vivemos, o que está acontecendo” (Coco Chanel, estilista e mulher de negócios).
Em julho de 2022, no feed do meu Instagram, deparei-me com um post sobre uma banca de conclusão de curso que me chamou a atenção: era uma revista de moda com uma capa primorosa chamada “Chitta”. Anotei o nome Cassia Castro. No ano seguinte, fui convidada para avaliar trabalhos de estudantes de uma disciplina de jornalismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em Imperatriz (MA), e conheci pessoalmente a jornalista por trás da revista. Propus um perfil sobre ela para o Assobiar, e ela prontamente aceitou, mas demorei quase um ano para entrar em contato e marcar a entrevista. Isso não se mostrou um problema, pois, apesar de estar muito ocupada com diversas demandas de trabalho, a mulher cujo perfil apresento hoje é apaixonada pelo projeto que criou e sempre encontra um tempinho na agenda para falar da “Chitta” e do jornalismo de moda.
Cassia Castro tem 25 anos e é formada pela UFMA. É jornalista de moda, social media e microempresária, membro do Conselho da Mulher Empresária da Associação Comercial de Imperatriz. Ela conta que, inicialmente, a área não estava no seu radar de estudo: durante o ensino médio, seu interesse oscilava entre contabilidade e bioquímica. Contudo, sua paixão pela redação e o incentivo de professores a direcionaram para o jornalismo.
Ela sempre teve uma forte ligação com a moda e acabou encontrando na área uma forma de expressão. Desde pequena, Cassia demonstrava interesse por jogos de vestir e programas de TV como “Esquadrão da Moda”. Durante sua adolescência, esse interesse se intensificou com o consumo de revistas, incentivada também por seu pai que lhe comprava edições da revista “Manequim” e “Elle”.
Ao ingressar no curso, precisou lidar com o receio do jornalismo tradicional, mais formal e engessado. No entanto, no terceiro período, encontrou uma oportunidade de unir jornalismo e moda por meio da iniciação científica no grupo de pesquisa orientado pela professora Thaísa Bueno, focado em comunicação e ciberjornalismo.
“Comecei minha jornada na pesquisa de moda como voluntária em 2018, no terceiro período da faculdade. Minha primeira pesquisa foi sobre influenciadores digitais, sem receber bolsa inicialmente. A partir de então, passei três anos engajada em várias pesquisas, durante os quais consegui uma bolsa de iniciação científica. Esse período foi importante para minha formação, pois eu inseria moda em todos os meus trabalhos acadêmicos, transformando meu medo inicial em uma paixão alinhada com minhas aspirações profissionais”.
A colaboração com a professora Thaísa foi um ponto de virada, permitindo que Cassia explorasse a moda no jornalismo de maneira inédita. Após a pesquisa sobre influenciadores, ela passou a estudar o jornalismo de moda no Brasil, entrevistando cinco jornalistas de diferentes veículos. Essa experiência consolidou sua decisão de se tornar uma jornalista na área, mostrando que era possível realizar trabalhos significativos e inovadores.
Cassia descreve moda como uma forma de comunicação e expressão de liberdade. Para ela, moda é uma maneira de comunicar mensagens, oferecendo a liberdade de criar e se expressar de diversas formas. Mas nem todo mundo ao redor via da mesma forma, e ela enfrentou preconceitos de colegas e professores que viam a moda como algo fútil. Foi o apoio de Thaísa que a fez perseverar. Embora seu trabalho tenha sido muitas vezes desvalorizado em eventos acadêmicos por não ter um “apelo social” evidente, essas experiências a ajudaram a reafirmar seu compromisso com o jornalismo de moda.
Ela ressalta que a pandemia mudou a forma como a moda era vista, tornando as discussões mais amplas e focadas em comportamento, algo que ela sempre acreditou ser importante. Ao entrevistar jornalistas renomadas, como Juliana Mesquita, ela ampliou sua perspectiva, fortalecendo a determinação em seguir essa carreira e demonstrando o propósito maior de seu trabalho. Essas conversas destacaram a importância de um conhecimento amplo e constante atualização e, principalmente, sobre a necessidade de estar ligada à moda no contexto local.
Motivada pela falta de conteúdo de moda fora do eixo Rio-São Paulo, ela decidiu criar uma revista regional como seu trabalho de conclusão de curso. Fez cursos livres em jornalismo de moda na faculdade Belas Artes e, inspirada por suas pesquisas que mostravam a percepção de que a moda era meramente publicitária e sem conteúdo, desenvolveu um projeto inovador para discutir e valorizar a moda regional no Maranhão e no Nordeste, visando não apenas apresentar tendências, mas também comunicar de forma que o público local pudesse se identificar.
A revista, batizada de “Chitta” (https://cassiacastro5.wixsite.com/revistachitta e @chitta.revista), trouxe um enfoque regional e comportamental à moda, questionando padrões e promovendo discussões relevantes. Contando com a colaboração de mais de 30 voluntários e o apoio de sua mentora, professora Thaísa, Cassia conseguiu mobilizar alunos para participar do projeto e lançar a revista, que conquistou o primeiro lugar na categoria Revista no SIMCOM (Simpósio de Comunicação da Região Tocantina) da UFMA em 2022, mesmo ano em que ela apresentou a revista ao mundo.
O trabalho foi bem recebido tanto na universidade quanto nas redes sociais, com feedbacks positivos de pessoas que se identificaram com o conteúdo e se sentiram representadas. De certa forma, o processo de produção e a própria revista promoveram maior interesse no jornalismo de moda na universidade. “Conversamos muito sobre isso, Thaísa e eu, pois era algo que ela sempre quis fazer. Antes da “revolução” com a Chitta, tivemos a primeira matéria optativa de jornalismo de moda, que foi incrível. A sala estava cheia e eu participei das primeiras aulas, mesmo já tendo me formado. Queria viver aquele momento marcante. Após a Chitta, muitas pessoas começaram a se interessar, e os professores também começaram a valorizar mais o tema.”
Em 2023, o Simpósio de Comunicação da Região Tocantina, que estava em sua 17ª edição trouxe pela primeira vez como tema “Comunicação e Moda”.
“A Thaísa, por exemplo, falou que ia focar mais no jornalismo de moda e eu fiquei muito feliz em apoiá-la. Ela se dedicou muito, junto com a equipe, e o evento que organizaram foi muito bonito, abordando jornalismo de moda de uma forma propositiva e conceitual. Os profissionais convidados foram incríveis e fiquei muito feliz em ver o impacto da revista. Participei das palestras e oficinas, e foi muito especial. Dei uma oficina de escrita de jornalismo de moda e, no final, houve uma mesa-redonda com profissionais. Uma jornalista destacou meu trabalho e disse para continuar, chamando-o de pioneiro e relevante. Receber esse feedback, na frente de todos, foi uma experiência incrível e gratificante.”
Outra grande realização para a Cassia foi a cobertura do São Paulo Fashion Week no final do ano passado. “Foi uma experiência incrível e muito gratificante. Além disso, participei do evento Mobiliza São Luís, que movimenta a cidade discutindo diversos setores. Continuo a buscar oportunidades para crescer profissionalmente e espero continuar contribuindo para a moda e o jornalismo de moda”.
Após se formar, Cassia enfrentou o desafio de conciliar a paixão pela revista Chitta com a necessidade de se sustentar financeiramente. Mesmo antes de se formar, ela já trabalhava em jornalismo e marketing, tornando difícil equilibrar suas responsabilidades profissionais com o projeto. Entre 2019 e 2020, começou a dedicar mais tempo às agências, pois, embora gostasse do que fazia na Chitta, não havia retorno financeiro. Depois de formada, ela se tornou microempresária, o que reduziu o tempo dedicado à revista. Nos últimos dois anos, sua prioridade foi estabelecer-se profissionalmente e garantir um rendimento estável, apesar da instabilidade do trabalho autônomo. Mas ela deseja voltar a produzir conteúdo para a Chitta e equilibrar essa paixão com a carreira profissional.
Em momento importante de transição pessoal e profissional, Cassia se prepara para um novo capítulo da sua vida que combina também as aspirações acadêmicas com seu compromisso em transformar o jornalismo de moda. “Estou em uma fase importante da minha vida, estou noiva e prestes a me casar. Após essa fase, pretendo retomar meus estudos no final do ano, visando ingressar no mestrado em Comunicação. Trabalhar com marketing e comunicação nas redes sociais não me entusiasma tanto quanto a ideia de dar aulas na UFMA, especialmente sobre jornalismo de moda. Isso seria uma grande realização pessoal. Com o retorno aos estudos, acredito que minha dedicação à Chitta será automática, pois desejo retomar esse projeto”.