Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma autora brasileira, considerada uma das primeiras e mais destacadas escritoras negras do país. Ela é autora do livro best-seller autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, e é sobre ele que quero escrever hoje.
Durante sua infância, Carolina passou por muitas necessidades e, por conta disso, conseguiu estudar somente até o 2º (segundo) ano do ensino fundamental. Quando ela se mudou para a cidade de São Paulo, foi viver na favela do Canindé e lá construiu seu barraco, utilizando-se de materiais que encontrava no lixo, como papelão, latas e madeira. Ela foi mãe solteira, teve três filhos e enfrentou muita dificuldade para criá-los; seu grande sonho era ser escritora. Carolina não tinha uma relação amigável com seus vizinhos e, sempre que brigava, ameaçava-os de colocar o nome deles em seu livro. Em uma dessas vezes em que estava brigando, um curioso repórter que fazia uma reportagem na favela do Canindé ficou interessado em saber que livro era esse do qual ela falava.
Foi assim que Audálio Dantas conheceu Carolina Maria de Jesus. O repórter voltou para a redação do jornal com meia dúzia de cadernos escolares e convenceu seu chefe a publicar os escritos de Carolina Maria. Tempos depois, Audálio conseguiu realizar o sonho de Carolina e publicou seu primeiro livro, “Quarto de Despejo: Memória de uma Favelada”. Neste livro, em forma de diário, há registros de 1955 até janeiro de 1960. São relatos muito vívidos e sinceros de uma mulher que passou fome e que criticava aquela realidade em que vivia. É um livro que vale muito a pena ler para conhecer a realidade do Brasil, não só a realidade social e cultural, mas também a política. Há também uma Carolina que via na escrita e na leitura a esperança para dias melhores.
No entanto, mesmo que Carolina tenha ganhado muito dinheiro e tenha sido reconhecida mundialmente através dessa e de outras de suas obras, ela morreu em 1977 na pobreza, em decadência e solitária. E isso diz muito sobre uma sociedade brasileira que, quando se trata de usar algumas mulheres e explorar a realidade, colocando holofotes na pobreza, eles exploram. Mas quando se trata de continuar incentivando e dando oportunidades para que publiquem outros livros e tenham fama com outras coisas, isso não acontece.
“Quarto de Despejo” é um desabafo vomitado em páginas que nos deixam imersos em uma realidade que muitas vezes desconhecemos. Ela cita que sabe a cor da fome: amarela. E essa cor ela tentava fugir ao máximo.
Graduada em Serviço Social pela UNISULMA e faço parte do Clube de Livros Mulheres em Prosa que é um grupo de leitura de mulheres que leem mulheres e que se reúnem uma vez a cada dois meses para debater uma obra de autoria feminina. Nessa coluna, pretendo compartilhar com vocês sobre as leituras que já fiz e quais as percepções que elas me trouxeram. Uma frase que gosto muito é da Rosa Luxemburgo que diz o seguinte: ”Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”.