Nem fede, nem cheira

Os cheiros são sempre marcantes. O perfume da pessoa amada, o cheiro do tempero da vovó, ou aquele aroma de terra molhada, fazem parte da nossa memoria afetiva, agora já imaginou viver sem sentir cheiro nenhum?

Pois a história da passageira que vou contar agora, se resume em cheiros ou na falta dele.

Era uma manhã de sábado, entrou uma passageira com seus 40 e tantos anos, ela ia para o primeiro shopping da cidade, aquele que todo mundo ia antigamente e achava o máximo. Passamos em frente a uma distribuidora de café que existe na BR 010, comentei sobre o cheirinho gostoso do café sendo torrado e ai começa a história.

Ela me contou que teve que se submeter a uma cirurgia na cabeça, não sei bem o porquê, mas o que me chamou atenção foram as sequelas: ela ficou sem olfato e com 70% do paladar comprometido, porque um nervo que administra esses sentidos foi atingindo durante o procedimento.

Mas como comer sem sentir gosto? Eu perguntei.

Naquele momento nem passava por minha cabeça à Covid-19, que iria fazer com que grande parte da população tivesse essa experiência.

“Eu vivo com as lembranças, adoro suco de bacuri, então lembro do gosto e tomo meu suco”, respondeu ela com muita naturalidade.  “Minha maior dificuldade é pra cozinhar, às vezes peso no sal ou em outro tempero, porque não consigo medir quando está realmente bom, mas uso meus netos pra fazer os testes, eles adoram (risos)”, completou.

A viagem encerrou e aproveitando a singularidade da minha passageira, pedi que ela avaliasse meu carro com 5 estrelinhas e comentasse “Carro cheiroso”, afinal é verdade.

Juliana de Sá

Jornalista por formação e curiosa por vocação! Nas horas vagas dirijo por aplicativo nas ruas de Imperatriz, onde ouço todo tipo de história e as transformo em texto. Às histórias são reais com uma leve liberdade poética, se você gosta de imaginar venha comigo nessa!

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