“Desejar ver a vida de outra forma, seguir outro caminho, pois a vida é breve e precisa de valor, sentido e significado. E a morte é um ótimo motivo para buscar um novo olhar sobre a vida”.
O título da coluna de hoje veio do livro A morte é um dia que vale a pena viver (Editora Sextante, 2016), escrito pela médica Ana Claudia Quintana Arantes. Ela é especialista em Cuidados Paliativos que, segundo a Organização Mundial da Saúde (2002), “consistem na assistência, promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais. ”
Conheci a obra e a sua autora por causa de um vídeo do canal Jout Jout Prazer, que assisti no início deste ano. Em um texto com menos de 200 páginas, dividido em mais ou menos 26 capítulos pequenos, a Ana Claudia compartilha experiências e aprendizados adquiridos em mais de duas décadas praticando medicina e tece reflexões sobre a morte e a vida. “Eu vejo as coisas de um jeito que a maioria não se permite ver. Mas tenho aproveitado várias oportunidades de capturar a atenção de pessoas interessadas em mudar de posição, de pontos de vista. Algumas apenas podem mudar, outras precisam; o que nos une é o querer”.
O impacto das reflexões do livro está, muitas vezes, na sutil aparência de obviedade que elas possuem. Por exemplo, talvez não tenhamos nos dado conta de que cada dia vivido é, na verdade, um dia a menos. Passamos os dias desejando o final de semana, o final do ano, as férias, a aposentadoria. Olhamos impacientes o relógio, tentando apressar os ponteiros. Estamos sempre suspirando por um tempo futuro, enquanto o tempo presente, que de fato é o que temos, escorre pelas nossas mãos. “O tempo acaba, mas a maioria das pessoas não percebe que, quando olha no relógio repetidas vezes esperando o fim do dia, na verdade estão torcendo para que o tempo passe mais rápido e sua morte se aproxime mais depressa”.
Comprei a versão e-book e li uma parte no celular e a outra no leitor digital. Precisei conter minha vontade de sair marcando todas as páginas para guardar as preciosidades ditas pela Ana Claudia. “[…] Minha vida ficou plena de sentido quando descobri que tão importante quanto cuidar do outro é cuidar de si mesmo”, diz ela. Embora seja curto e com uma linguagem fluída, acabei demorando um pouco mais para finalizar o livro, porque precisava digerir as reflexões que ele me causou. Enquanto lia, meu desejo era ter vários exemplares do livro físico para sair distribuindo entre os meus amigos e assim termos juntos vários insights, principalmente nesses tempos difíceis em que temos vivido.
Pensar sobre quem somos e o que temos feito de nossas vidas. Aprender sobre Cuidados Paliativos no mundo e no Brasil, sobre os estágios da morte e sobre o luto. Entender a importância do autocuidado, empatia e compaixão. Repensar sobre a vida, a partir da perspectiva de que vamos morrer um dia, as pessoas que amamos também e precisamos falar sobre isso.
“O que separa o nascimento da morte é o tempo. A vida é o que fazemos desse tempo; é a nossa experiência. […] esquecemos que a opção ‘vida’ não é um botão ‘on/off’ que a gente liga e desliga conforme o clima ou o prazer de viver. Com ou sem prazer, estamos vivos 100% do tempo. O tempo corre em ritmo constante. A vida acontece todo dia, e poucas vezes as pessoas parecem se dar conta disso. ”
Extra:
Recomento assistir ao A única certeza, vídeo do canal Jout Jout Prazer em que a youtuber Julia Tolezano bate um papo bom com a Ana Claudia Quintana sobre vida, morte e cuidados paliativos. Além disso, assista também A morte é um dia que vale a pena viver, palestra que ela fez no TEDx FMUSP.