A coluna de hoje é uma colaboração especial com o Iago Sousa, alguém que vez e sempre aparece nas entrelinhas dos meus textos do Virando a página. Formado em Direito, ele é um leitor voraz e um quase ex-comprador-de-livros-por-impulso. Nós moramos há milhares de quilômetros de distância um do outro (ele no Amazonas, eu no Maranhão) e nos conhecemos por causa de um clube de assinatura de livros, a TAG – Experiências Literárias. Iago é a prova cabal de que os livros além de conhecimento e diversão também podem nos trazer amizades sinceras.
Iago Sousa – No fim do ano passado vendi mais de cinquenta livros a um sebo. A estante já estava apertada; eram livros sobre livros. Não havia espaço para um átomo. Decidi que precisava me desfazer de alguns para dar lugar a outros.
Comecei separando os livros que já havia lido e dos quais não gostara tanto. Foi fácil e indolor, porém insuficiente. Além desses, quais livros remover? Há tantos não lidos, um dia lerei todos…
Lerei mesmo? Pensando bem: não. Conhecendo meu funcionamento enquanto leitor, percebi que muitos dos meus livros não seriam lidos, por mais que dissesse a mim mesmo o contrário. Então invoquei todo sangue-frio que pude e removi todos os livros da estante, dispondo-os sobre a cama. E, com uma frieza quase psicopata, separei inúmeros exemplares para passar adiante.
Foi hora de me questionar: este livro, eu realmente o lerei ou ele ficará eternamente no limbo do “um dia”? Fiz esse exercício livro a livro. Há que ter brio, não nego. O resultado, todavia, é libertador. Depois de me desfazer dos mais de cinquenta exemplares, percebi quantos deles comprei por impulso, porque estavam em promoção ou porque alguém algum dia mencionou e julguei que deveria ler – mas não li.
Fui em boa parte influenciado pela amiga Idayane, meu guru quando se trata de consumo consciente. Adotei uma lista de livros desejados que vez ou outra reformulo, excluindo itens não tão desejados assim. Além disso, resistir às promoções é vital – algumas vezes, sabendo de uma liquidação em livraria, deixei meu cartão em casa. Outras dicas a própria Idayane citou na coluna da semana passada, vale a pena conferir.
Minha estante continua cheia e eu continuo tendo muitos livros, mas agora estou mais consciente (o que não quer dizer que vez ou outra não cometa um deslize, que o leitor me compreenda, sou um ser humano). E se você quer ou precisa se desfazer de alguns (ou muitos) livros, retire-os todos da estante e, um a um, faça aquela pergunta crucial. Tudo bem querer manter alguns livros por um bom tempo ou por toda a vida; outros tantos, porém, podem circular livremente, não vai doer desfazer-se deles, acredite. Dê a algum amigo, doe a uma escola, venda a algum sebo. Parafraseando Jards Macalé e Wally Salomão, só não se engane dizendo “talvez eu leia, um dia eu leio”. Esse dia nunca chegará.
Idayane Ferreira – Não tenho tantos livros como o Iago, mas passo também pelo mesmo dilema, acrescido do fato de que acredito piamente que vou ler todos os livros que tenho na minha estante. Sendo assim só me desfaço de um livro depois de tê-lo lido. Embora, tenha reduzido muito a compra, não tenha pego nenhum emprestado e esteja me dedicando a ler o que já tenho, o meu problema do “talvez eu leia, um dia eu leio” são os livros digitais. Não bastasse os físicos na estante, tenho vários em uma pasta no HD e também no leitor digital de livros. Olhei aqui na contagem total de itens de uma única pasta que havia 670 livros (!) que ainda não foram lidos e talvez não sejam, quem sabe um dia. Assim que comprei o leitor digital meu ímpeto foi deixar todos os livros nele, o que dificultava na hora de escolher um. Quando comentei com o Iago sobre o assunto, ele ficou assustado: não havia em seu leitor digital, com três anos de uso, nem 60 livros; enquanto que no meu, no primeiro mês, já contava com algumas centenas. Atualmente, estou mais realista e passo para o leitor apenas o que vou ler no mês, resultado das dicas e boa influência do Iago. O que, como ele mesmo diz, “ não quer dizer que vez ou outra não cometa um deslize”. Pois bem, a pasta de livros no meu HD cresce a cada dia.