Romances matemáticos

Apesar de ter nas palavras meu ganha-pão e lazer, sempre fui fascinada pela matemática e pela física. Meu fascínio não se traduz em compreensão imediata ou em habilidade excepcional de fazer cálculos, mas isso não diminui meu encantamento. Na graduação, meus colegas brincavam que escolhemos Jornalismo para evitar ter que calcular qualquer coisa, mas aqui estou, estudando Jornalismo de Dados e lidando semanalmente com números e termos matemáticos.

Enquanto tento entender estatística e a lógica por trás do cálculo de média, mediana e moda – e quando é interessante usar cada uma delas – reflito sobre como a matemática é frequentemente vista como uma disciplina árida e intimidante. No entanto, podemos nos surpreender positivamente quando a observamos através da literatura. Isso é evidente em “Poesia matemática”, de Millôr Fernandes, do qual transcrevo um trecho:

Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base.
Uma Figura Ímpar;
Olhos romboides, boca trapezoide,
Corpo octogonal, seios esferoides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela
Até que se encontraram
No Infinito. […]

A literatura pode tornar a matemática mais acessível e até mesmo apaixonante para um público mais amplo. “A Rainha das Ciências: Um passeio histórico pelo maravilhoso mundo da Matemática”, do Gilberto Geraldo Garbi, não é exatamente um romance, mas um livro de história da matemática que revela suas aventuras intelectuais e mistérios, mostrando que as histórias por trás das descobertas não ficam devendo em nada para romances.

Um dos meus livros favoritos na categoria é “O Homem que calculava”, do Malba Tahan – pseudônimo do matemático brasileiro Júlio César de Melo e Sousa. Ele escreveu contos e histórias semelhantes aos enredos das Mil e Uma Noites, incluindo uma biografia fictícia para Malba. O livro, com uma abordagem lúdica, narra a história de Beremiz Samir, um calculista persa cuja habilidade com números o leva a diversas aventuras e desafios. Através de suas histórias e problemas matemáticos, Tahan demonstra como a matemática pode ser aplicada de maneiras práticas e divertidas no dia a dia.

Outro livro que me instigou bastante foi “O Enigma de Fermat: Uma jornada matemática”, do britânico Simon Lehna Singh, que narra a história do matemático britânico Andrew Wiles e sua obsessão por resolver um dos problemas mais antigos e desafiadores da matemática, o Último Teorema de Fermat. Singh combina história, biografia e conceitos matemáticos de maneira envolvente, tornando a matemática acessível e emocionante até mesmo para leitores não familiarizados com termos técnicos.

“O Teorema do Papagaio”, do francês Denis Guedj combina ficção, história e matemática em um suspense policial que segue a jornada de um jovem e sua busca por desvendar mistérios matemáticos após receber uma biblioteca de um matemático excêntrico. É uma excelente introdução à história da matemática e seus principais conceitos, apresentados de maneira acessível.

Outro livro que também se encaixa na categoria de romance matemático é “O Universo numa casca de noz”, do físico teórico, cosmólogo e autor britânico Stephen Hawking. Ele explora conceitos complexos da física e matemática com clareza e humor. Não sei se entendi tudo, mas fiquei maravilhada com a complexidade do universo.

Muitos desses romances apresentam conceitos matemáticos complexos, mas não é necessário compreender cada detalhe técnico para aproveitar a história. As narrativas e a interação dos personagens com a matemática são realmente interessantes. Alguns ajudam a entender o contexto histórico e mostram que a matemática não se desenvolveu no vácuo; ela é uma parte integral da história.

Os romances matemáticos não apenas desmistificam a disciplina, mas também revelam a beleza, a criatividade e a emoção inerentes à matemática, uma ciência que teve início no Egito, no século XVII a.C., e que culminou na Europa, no final do século XIX.

Idayane Ferreira
Idayane Ferreira

“Jornalista com “abundância de ser feliz”, mais “da invencionática” do que “da informática”, acredita piamente que Manoel de Barros escreveu “O apanhador de desperdícios” baseando nela.“

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