Os benefícios cognitivos de ler ficção

Fiz uma pesquisa rápida sobre os benefícios da leitura e encontrei muitos textos sobre o assunto. De modo geral, os textos traziam dados baseados em pesquisas científicas que apontam que a leitura aprimora a escrita, ajuda a melhorar o vocabulário, reduz o estresse, pode nos tornar mais empáticos e criativos e até proteger nossa memória. Só por esses benefícios citados já teríamos bons motivos para abrir um livro agora mesmo.

Nas últimas décadas, estudiosos de várias disciplinas têm debatido os benefícios e potenciais desvantagens da leitura de ficção. Por isso uma das notícias, em particular, chamou minha atenção: a Neoscope divulgou recentemente que cientistas descobriram que a leitura de ficção tem efeitos positivos significativos no cérebro.

Lena Wimmer, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Maximilian da Alemanha, e seus colegas, em entrevista ao PsyPost, compartilharam suas descobertas sobre os benefícios da leitura de ficção para a cognição. O objetivo da pesquisa era obter uma visão objetiva e quantitativa das evidências empíricas.

Wimmer e sua equipe conduziram duas meta-análises para avaliar o impacto da leitura de ficção no pensamento humano: a primeira meta-análise, publicada no Journal of Experimental Psychology: General, envolveu 70 estudos e mais de 11.000 participantes. Os resultados mostraram que a leitura de ficção teve um efeito positivo pequeno, mas estatisticamente significativo, na cognição. Os leitores de ficção demonstraram melhor empatia e compreensão dos pensamentos alheios. A leitura de ficção foi mais benéfica quando comparada à não fazer nada ou assistir ficção na tela.

A segunda meta-análise, envolvendo 114 estudos e mais de 30.000 participantes, revelou uma correlação positiva ainda mais substancial entre a leitura de ficção e as capacidades cognitivas. Os benefícios incluíam competências verbais, raciocínio, pensamento abstrato e resolução de problemas. Novamente, houve uma tendência para melhores capacidades emocionais, como a empatia, embora essa correlação fosse menos pronunciada.

Ambas as análises indicaram que pessoas que leem muita ficção têm melhores capacidades cognitivas do que aquelas que leem pouca ou nenhuma ficção. Segundo Wimmer, os benefícios são pequenos em várias habilidades cognitivas, mas de tamanho médio para habilidades cognitivas verbais e gerais. A leitura de ficção mostrou uma associação mais forte com habilidades cognitivas do que a leitura de não-ficção.

Embora esta pesquisa não seja uma prova definitiva, ela fornece uma base sólida para estudos futuros sobre os efeitos dos hábitos de leitura no cérebro. Por enquanto, parece que a seção de ficção está em vantagem.

Idayane Ferreira
Idayane Ferreira

“Jornalista com “abundância de ser feliz”, mais “da invencionática” do que “da informática”, acredita piamente que Manoel de Barros escreveu “O apanhador de desperdícios” baseando nela.“

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